Às portas da cidade de Leiria, o pequeno lugar de Alcogulhe de Cima, na Maceira, transformou-se num local de enorme vitalidade empresarial desde que, há dois anos, a Prélis decidiu deixar de fabricar tijolos para transformar as suas instalações de 10 mil metros quadrados num espaço capaz de acolher inúmeros ateliers e armazéns.
Em pouco tempo, o Campus Circular, assim se chama actualmente a infra-estrutura, passou a contar com cerca de 40 empresas residentes, que partilham o seu foco na economia circular e que têm efectivamente aproveitado o desperdício das vizinhas para produzir novos artigos.
Miguel Ferreira, gestor, mantém os negócios da Prélis com a família, actualmente em moldes muito diferentes. A empresa deixou de fabricar tijolos, mas continua nas instalações da Maceira, onde se dedica agora à importação e à distribuição [LER_MAIS]de cerâmica decorativa, através de comércio online.
Quanto à restante área coberta que ficou disponível, tem vindo a ser transformada de forma a dividir-se em vários atelier se áreas industriais. Juntos, todos estes novos espaços já ocupam 60% dos armazéns.
“Não foi preciso recorrer a nenhum fundo”, congratula-se Miguel Ferreira, lembrando que os “tijolos, os ‘monos’ e os recursos humanos da Prélis” foram suficientes para arrancar com a conversão destas áreas. E as receitas alcançadas com a cedência dos primeiros ateliers serviu para avançar com a requalificação dos restantes.
Os resultados, em termos de empregabilidade, saltam à vista. Entre a Prélis e as empresas residentes, o Campus Circular já criou 75 postos de trabalho. “Nascemos com o propósito de promover a economia circular e de ajudar a recuperar ou a reciclar resíduos entre empresas residentes.
No caso particular da Prélis, temos o projecto Plasblock, que utiliza desperdício de outras actividades para fazer tacos para paletes. São produtos destinados a exportação”, conta o gestor, que também se mostra satisfeito com o seu mais recente projecto. “No final de Janeiro, fechámos acordo com a Delta e vamos começar a explorar mais produtos de valor acrescentado. Vamos utilizar cápsulas de café usadas para fabricar mesas, cadeiras e outro tipo de merchandising da Delta.”
Mas o foco na economia circular estende-se a muitas outras entidades residentes, salienta o responsável. Há empresas que usam restos de material desportivo e de embarcações para fazer mochilas resistentes, há negócios de carpintaria a trocar sinergias com os de artesanato e há até produtores de cogumelos que recorrem aos desperdícios de madeira para desenvolver o seu projecto de micologia.
Além disso, há espaços usados para apoio logístico de empresas de transportes, há estudantes do Politécnico de Leiria que ocupam ateliers para neles desenvolverem os seus protótipos da área automóvel, também empresas das áreas da construção modular, dos sistemas de energia solar e da arquitectura, que, pela proximidade do negócio, facilmente podem partilhar recursos, entende Miguel Ferreira.
Na passada segunda-feira, dia 6, o Campus Circular recebeu mais um novo inquilino. Trata-se da Forma Arquitectos, empresa fundada em 2012 pelo arquitecto Pedro Santos, natural da Marinha Grande, que, a partir da Maceira, pretende ter uma “localização central, próxima de vários municípios, com bons acessos e estacionamento”.
Miguel Ferreira acrescenta que o objectivo é também encontrar com Pedro Santos materiais mais sustentáveis que este possa incorporar nos seus projectos.