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Home Opinião

“Livrai-nos das espingardas e dos suicídios dos pais”*

Helena Rafael, assessora de imprensa por Helena Rafael, assessora de imprensa
Junho 16, 2022
em Opinião
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Na cena final de Olive Kitteridge, uma mini-série de quatro episódios da HBO, Frances McDormand, que interpreta a personagem principal, encosta o rosto ao peito de Bill Murray (Jack Kennison) que lhe pergunta enquanto observam o voo das gaivotas junto ao mar do litoral rochoso do Maine:

— Ouves alguma coisa? Ainda estou vivo?

— Sim. Ainda continuas a respirar. Este mundo deixa-me perplexa… Ainda não o quero deixar.

Olive, cuja vida foi atravessada pela depressão e pelo suicídio do pai, não consegue matar-se.

Logo no início da série, baseada no romance homónimo de Elizabeth Strout (Prémio Pullitzer,2009) a câmara acompanha-lhe os passos decididos rumo ao local onde tenciona acabar com a sua vida.

Estende uma manta no relvado, liga o rádio com a música que escolheu para acompanhar o seu fim, verifica o revólver e a carta que deixará para quem quiser lê-la.

No descampado que a rodeia, o seu olhar detém-se, porém, nas árvores despidas de folhas, no canto dos pássaros e na brisa que lhe afasta o cabelo sem brilho do rosto envelhecido.

Um breve instante de uma beleza trágica e salvífica que lhe sustém a mão no gatilho.

Neste primeiro episódio, ficamos sem saber se Olive concretiza ou não o seu plano, pois Lisa Cholodenko, a realizadora da série, deixa-nos em suspenso, transportando-nos num flashback para a vida de Olive 25 anos antes.

Olive é então uma professora de matemática cáustica e exigente, que vive com Henry Kitteridge (Richard Jenkins), um farmacêutico atencioso e gentil que não desiste de expressar o seu afecto através de gestos amorosos, que Olive despreza e ignora.

Christophe, o filho de ambos, introvertido e carente, sofre com o casamento tumultuoso dos pais e revela sinais de instabilidade psicológica pelos quais responsabiliza a mãe.

Hostil para com quem a rodeia, Olive contamina os ambientes em que orbita.

Não suporta a candura do marido, antipatiza com as relações do filho, desaprova-lhe o casamento, envergonha a família com a sua falta de maneiras e não troca a verdade mais dura por uma residual cosmética de convivialidade social.

Excepção feita a Jim O’Cassey (Peter Mullan), colega de trabalho de Olive e a sua verdadeira paixão, que nos permite testemunhar uma das raras ocasiões em que ela se desprotege e se revela vulnerável.

À medida que os anos passam, a solidão de Olive aprofunda-se, assim como a relação surda que estabelece com Henry, que acaba por morrer na sequência de um AVC.

Longe do filho de quem se afasta emocional e geograficamente, Olive entrega-se a uma devoção litúrgica ao seu jardim, ao cão que nunca mais morre para que possa finalmente suicidar-se e à salvação de um ex-aluno particularmente inteligente devastado por uma mãe psicologicamente perturbada.

Retomando a cena inicial, é no último episódio que Lisa Cholodenko volta a colocar-nos perante a derradeira hipótese de redenção de Olive (e de Jack Kennison/Bill Murray, um viúvo rico que, entretanto, conhece).

O revólver está carregado e o cenário preparado para o seu fim, mas a realidade em toda a sua complexidade volta a deixá-la perplexa e incapaz de desistir.

Sob a forma de um diálogo final de uma impressionante economia verbal, entre uma brilhante Frances McDormand e um não menos notável Bill Murray, o que fica de Olive Kitteridge é a surpreendente honestidade emocional que atravessa toda a série e as personagens que nela habitam, e em particular aquelas duas que na cena final e sem qualquer ideia de futuro, se aceitam e se permitem prosseguir até ao fim.

*verso de um poema de John Berryman citado várias vezes ao longo da série

 

Etiquetas: Helena Rafaelopinião
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