No início, o Pátio do Barão parecia demasiado longe do epicentro da noite de Leiria. Os clientes não se desviavam do Terreiro para o novo bar, enfiado entre a Rua Barão de Viamonte (a Rua Direita) e a Rua da Beneficiência. Uma ideia, provavelmente, salvou o negócio: cerveja a 20 escudos quando tocava a canção da tuna sobre beber até cair. O espaço tornou-se um refúgio para os estudantes do ensino superior (que ainda é) e nesta segunda-feira, dia 16, cumprem-se 30 anos desde o primeiro copo, com o rosto de sempre ao balcão: o Rocha. A festa acontece no sábado, 21 de Janeiro.
Em 1993, “o Terreiro estava no auge”, lembra António Rocha. “Uma tentação”. Os Filipes, Estrebaria, Vicentes, Seca Meca e, muito perto, o Santo Estêvão e o Amadeus. O Pátio do Barão entrou definitivamente no roteiro à boleia da promoção dos 20 escudos, que acabou com a carta baseada em cocktails. “Tive de me adaptar”. E havia milhares de motivos para se adaptar: gente “de todo o lado”, além dos estudantes. “A noite de Leiria era falada em toda a parte, até em Lisboa”.
Só Os Filipes e o Pátio do Barão resistiram até à actualidade. Entre os primeiros frequentadores do bar, contam-se os fundadores da banda Silence 4. “O Rui Costa punha-se ali a tocar guitarra”, recorda António Rocha, que tinha 32 anos em 1993 e hoje continua a relacionar-se, sobretudo, com jovens. “Conta muito a maneira como se lida com os clientes. Conheço os meus clientes todos e toda a gente me conhece”.
Leiria é a etapa mais longa num percurso que começou na Praia das Maçãs, em Sintra, onde António Rocha, natural de Caldas da Rainha, se empregou, aos 11 anos de idade, como ajudante de pastelaria. Viveu e trabalhou em São Martinho do Porto, na Nazaré, na ilha da Madeira e também na Suíça, em França e no Luxemburgo. Antes de abrir o Pátio do Barão, serviu à mesa no restaurante do hotel Eurosol e noutro restaurante, mais abaixo, na avenida Marquês de Pombal, por onde passaram, entre outros, Mário Soares, Natália Correia e Manuel Alegre.
“Não é fácil. Para estar 30 anos a trabalhar num bar tem de se ter estaleca. E outra coisa: tem de se gostar das pessoas, isso é o principal”, conclui. Ser profissional e construir relacionamentos de respeito pelos outros. “Alguns estavam mais tempo aqui comigo na conversa do que na casa deles”. Muitos estão espalhados pelo País, mas voltam, de tempos a tempos. Às vezes com filhos ou mesmo netos. “É sinal que passaram por aqui e isto os marcou”.
“Trinta anos de casa querem dizer muita coisa, é de relevar”, comenta Ricardo Santo, 44 anos, um dos clientes mais próximos, que começou a frequentar o Pátio do Barão ainda adolescente, por ser “um sítio reservado, calmo, tranquilo” que completava o salão de jogos do centro comercial D. Dinis. Mesmo quando estudou em Lisboa, continuou a aparecer e levava os amigos para conhecerem a noite de Leiria, e claro, o Rocha, “sempre constante” e a tratar “todos por igual”.
A sucessão parece garantida, com o filho Ricardo Rocha, que jogou futebol e tem nome de craque, a explicar que “em equipa que ganha não se mexe”. Nasceu em Junho de 1993, seis meses depois da abertura do Pátio do Barão. E, acima de tudo, quer respeitar a herança. “O que move mais as pessoas para aqui é sem dúvida o meu pai, é a essência do bar. Aprendi com ele que nós aqui não julgamos ninguém”.