As compras neste Natal não foram suficientes para dinamizar o comércio de Leiria. A guerra, com o efeito negativo no poder de compra dos consumidores, mas também as obras no centro da cidade e a falta de estacionamento, são alguns dos constrangimentos apontados pelos lojistas. Para muitos, as expectativas recaem agora sobre a época de saldos.
Nelson Santos e Sérgio Silva, sócios-gerentes das lojas Voga Equation, RB Moda e Ferrache, explicam que, nos seus estabelecimentos, as vendas decorreram “abaixo das expectativas”. O resultado prende-se com a crise, por um lado, e por outro, com as obras que estão a decorrer na Rua Mouzinho de Albuquerque, próximo de dois dos seus espaços comerciais, a Voga Equation e RB Moda.
A esperança está agora depositada no período de saldos, que os sócios-gerentes adoptaram a seguir ao Natal. “Há pessoas que têm o hábito de esperar pelos saldos. Apesar de haver menos disponibilidade de artigos nesta altura, preferem arriscar”, expõe Nelson Santos.
“Foi estranho”, comenta Daniela Jerónimo, comercial da Ourivesaria Charme, situada na Avenida Cidade Maringá. Isto porque este ano o movimento na loja só começou [LER_MAIS]a ser sentido na semana anterior ao dia de Natal. Para Daniela Jerónimo, a “quebra” de vendas não terá resultado tanto da crise, porque alguns shoppings tiveram grande adesão, mas sobretudo devido às obras em curso no centro de Leiria, bem como a falta de estacionamento.
Com loja aberta há quase três décadas, a Ourivesaria Charme contou, ainda assim, com o movimento gerado pelos clientes habituais, constata a comercial. Neste negócio, explica a funcionária, não se tem optado pela descida de preços nem pelos saldos. É esse também o caso da Labuta, marca de calçado, malas e mochilas, 100% portuguesa e com origem em Leiria.
“Temos um conceito slow fashion, um pouco anti-moda e não temos por hábito fazer promoções”, argumenta Pedro Olaio, um dos fundadores da insígnia. Na Labuta, as vendas de Natal de 2022 “foram semelhantes às do ano transacto”. Se no início de 2022 a pandemia dava tréguas e fazia pensar num ano melhor, com o estalar do conflito entre Rússia e Ucrânia, a marca depressa começou a antecipar que, face à guerra, as vendas poderiam ser semelhantes às de 2021.
A Labuta exporta e tem no Canadá e na Austrália os seus principais mercados. Em Portugal, vende em lojas físicas multimarca, em Lisboa, Porto e Coimbra, e também comercializa online para todo o País
Com várias lojas em Leiria, Hélder Narciso refere que este Natal as vendas “foram ligeiramente superiores às de 2021”. Acredita que o facto de os seus estabelecimentos estarem localizados próximo da Praça Rodrigues Lobo, mais afastados das obras que decorrem na cidade, pode ter contribuído para este resultado.
Além disso, o grupo optou por encerrar a loja ADN no Leiriashopping, onde “o trabalho de proximidade com os clientes não estava a ser reconhecido”, e avançou para a ampliação e modernização da David Jeans, o que se revelou vantajoso, aponta o empresário. Mas os resultados obtidos seriam melhores se o preço cobrado pelos parques de estacionamento na cidade fosse mais baixo, argumenta.
Embora os clientes das suas lojas ainda valorizem a oferta de presentes no Natal e por isso não tenham deixado de comprar, Hélder Narciso acredita que o período de saldos corra este ano muito melhor do que no ano passado, já que o Governo, excepcionalmente, só autorizou que esse período de descontos acontecesse depois de 10 de Janeiro de 2022, recorda o empresário.
Lino Ferreira, presidente da Associação de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo da Região de Leiria, explica que o comércio tradicional sofre hoje com a concorrência dos shoppings e das vendas online, que se tornaram um hábito, sobretudo para as gerações mais jovens, com o surgir da pandemia. Mas há, contudo, mudanças que podem ser feitas para tornar o comércio tradicional de Leiria mais apelativo, entende o presidente.
Transformar a Avenida Heróis de Angola em zona pedonal, com parque de estacionamento que se mantenha gratuito até determinado tempo de utilização, trabalhar na modernização das lojas físicas (que devem adaptar-se também à vertente online) e captar para o local grandes marcas, que funcionem como gancho para atrair mais público, são algumas das suas sugestões para manter vivo este comércio, que “é de excelência”.
Outra mudança pela qual o dirigente se tem batido prende-se com os saldos. Uma vez que puderam passar a acontecer logo após o Natal, Lino Ferreira entende que estas baixas de preços levam muitos consumidores a protelar as compras para esse momento.