As grutas de Mira de Aire, no concelho de Porto de Mós, estão a ser utilizadas por uma equipa de investigadores, liderada por Eric Font, docente da Universidade de Coimbra, para estudar as variações do campo magnético da Terra e as mudanças climáticas.
Os elementos recolhidos irão também permitir “datar em que momento da evolução da Terra se formou a gruta e obter informação sobre o clima registado em Mira de Aire nessa época”, avança o líder da equipa, que integra o Departamento de Ciências da Terra da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC.
Financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), o projecto incide sobre o estudo das estalagmites, que, pela forma como são formadas, permitem registos “contínuos e de alta resolução”, quer das variações do campo magnético, quer das mudanças climáticas.
“Uma vez que a cronologia dos espeleotemas [estalactites e estalagmites] é calibrada através de datações radiométricas precisas, as assinaturas magnéticas, geoquímicas e mineralógicas preservadas nas finas laminações dos espeleotemas fornecem proxies climáticos de alta resolução, desde uma escala sub-anual a milenar”, salienta uma nota da Universidade de Coimbra, publicada aquando da aprovação do projecto pela FCT.
Em complemento, Eric Font explica que as estalagmites “são formadas através da água que cai à superfície, que passa através do solo, percorrendo as várias formações rochosas, permitindo a precipitação do carbonato de cálcio” que as origina.
“Cada gota que forma a camada das estalagmites reflecte a composição atmosférica da época, fornecendo dados precisos sobre o clima”, salienta o investigador. Por outro lado, “quando essa água passa no solo, traz pequenos cristais – magnetite – com capacidade de orientar, como se fossem pequenas agulhas que se vão depositando em camadas que registam, gravam e fossilizam a orientação do campo magnético registado a cada época”, acrescenta o geofísico.
Quanto à escolha das grutas de Mira de Aire, Eric Font adianta que os testes preliminares revelaram que as suas estalagmites têm “excelente campo magnético, prestando- se bem a este tipo de estudos”.