Um ensaio histórico sobre o “extraordinário” percurso de uma das mais antigas nações do mundo. É desta forma que é descrito o livro Palácio das Especiarias – Brevíssima História de Portugal, da autoria de Tomé Vieira, antigo professor de Português no Centro de Estudos de Fátima, a viver na Suíça desde 2019, cuja apresentação pública aconteceu na semana passada, em sessões realizadas em Lisboa, Ourém e Fátima.
Tomé Vieira conta que a obra nasceu de “um acaso”, na sequência de um convite de um antigo aluno para colaborar num projecto que estava a desenvolver na área da hotelaria em Lisboa. “Pediu-me para seleccionar citações de dez poetas portugueses e para preparar pequenas biografias. A ideia era dedicar a cada um uma das dez alas do alojamento que estava a criar.”
Guia pelos trilhos da história
Depois, veio o desafio “maior” para o Palácio das Especiarias, um edifício do século XVI, localizado também na capital e que está a ser requalificado. “A ideia é, em paralelo com o turismo, promover a história e literatura portuguesas junto de quem nos visita. Mostrar um pouco da nossa identidade e os contributos civilizacionais que temos dado ao mundo”, explica o antigo professor, chamado ao projecto para fazer a selecção de alguns dos principais acontecimentos e personalidades que marcaram a história de Portugal, desde a pré-história à actualidade.
Quando deu por si, “tinha feito uma síntese da nossa história”, que organizou em pequeno livro e enviou a várias editoras. Obteve “algumas” resposta e acabou por escolher o grupo editorial Atlântico, que “tem uma chancela vocacionada para livros mais técnicos ligados à história”.
Recorrendo a uma linguagem acessível e apelativa, Tomé Vieira procura “guiar” os leitores pelos “atribula-dos e entusiasmantes trilhos da história que explicam a singularidade do povo português, a sua complexa identidade e as idiossincrasias que o levaram a edificar e manter por séculos o primeiro e maior império ultramarino da História Universal”.
Esta foi a primeira aventura no mundo da escrita de Tomé Vieira, que não esconde o desejo de voltar a desafiar-se, agora na área da ficção.
Mudar de vida
Formado em Línguas e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Tomé Vieira foi, durante 20 anos, professor dos ensinos básico e secundário. Apesar de manter a “paixão” por transmitir conhecimentos, há cerca de três anos decidiu mudar devida.
“Dei por mim e era um workaholic feliz. Sentia-me realizado profissional e socialmente, mas havia o peso de não conseguir dedicar família o tempo que mereciam”, reconhece.A par da actividade que desenvolvia na escola, onde, além das aulas estava envolvido em diversos projectos, colaborava com várias instituições da freguesia, como a Casa da Criança do Valinho de Fátima e os bombeiros. Fez ainda parte do executivo da junta, como vice-presidente, e integrou a Assembleia Municipal de Ourém.
A necessidade de uma vida “mais tranquila” e com “melhor compensação financeira” levaram-no até à cidade suíça de Lausanne, onde já vivia o irmão mais novo. De nada lhe valeu o curso superior. Fez “o percurso típico do emigrante português sem formação”. Começou como trabalhador temporário numa empresa de construção especializada em pavimentos. Depois, esteve na gestão e manutenção de condomínios e numa grossista ligada ao comércio de frutas e legumes, acabando por regressar à primeira empresa, onde está agora.
“Uma das maiores vantagens de ter um emprego deste género é que liberta tempo. Não levo trabalho para casa. Saio às 16:30 ou 17 horas e tenho tempo para mim e para a família”, salienta Tomé Vieira, que assume ter saudades de estar com os alunos e de os ajudar a “descobrir coisas” e a “produzir conhecimento”.
O problema, diz, é que o ensino em Portugal está “muito burocratizado” e sobrecarrega os docentes com tarefas que lhes “roubam tempo” para preparar as aulas. “A sociedade exige de mais a um professor. Este, deve ser pedagogo, não tem de ser psicólogo, às vezes substituir o trabalho dos encarregados de educação e até ser um pouco de enfermeiro.”