Fez no passado dia 20 de Junho que nasceu, na quinta de seus avós em Benfica, a menina que, como era dado às meninas de família desse tempo, fez os seus estudos em casa. Mas, ao contrário do que era costume dessas meninas de família, MRA fez a sua licenciatura em Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa, em 1945. Quarenta anos professora do ensino secundário e na Escola do Magistério Primário de Lisboa. Não foi, porém, esta atividade que a tornou célebre. MRA mostrou-se sempre uma fervorosa defensora dos Direitos das Crianças. Assim, foi sócia fundadora do Comité Português da UNICEF e do Instituto de Apoio à Criança e escreveu inúmeras vezes sobre o interesse da infância na educação e acerca da utilidade da literatura infantojuvenil na formação dos mais novos. E foi neste campo, o da escrita para o público juvenil, que mais aplicou a sua criatividade.
Estreou-se em 1943 com “A Garrana”, uma novela sobre a eutanásia com a qual venceu o concurso “Procura-se um Novelista” do jornal O Século, em cujo júri se encontrava Aquilino Ribeiro. Para o público adulto escreveu ainda “Estrada Sem Nome”, “Praia Nova”, “O Chão e as Estrelas” e “Voz Nua”.
O primeiro livro para crianças publicado foi “O Livro da Tila” (1ª ed. 1957); (Tila era o nome pelo qual Matilde era conhecida entre os amigos) escrito nas viagens de comboio entre Lisboa e Portalegre onde lecionava e cujos poemas foram musicados por Lopes Graça.
Sobre este livro escreveu José António Gomes (JAG) que «desvela o universo de uma infância, em parte eufórico, feito de pequenos deslumbramentos perante o mundo e a natureza, expresso ora por um sujeito da enunciação infantil/juvenil, ora por uma voz adulta que observa o real e as relações que a criança com ele estabelece». (in Colóquio Letras)
Seguiram-se “O Palhaço Verde”, “História de um Rapaz”, “O Sol e o Menino dos Pés Frios”, “O Reino das Sete Pontas”, “História de uma Flor”, “O Gato Dourado”, “As Botas de Meu Pai”, “As Fadas Verdes” e “Segredos e Brincadeiras”, entre cerca de quatro dezenas de títulos.
Acrescenta JAG que «A aposta na vida, que caracteriza a poética de Matilde, não se faz, porém, sem uma reflexão sobre a condição do homem em sociedade. Ela inicia-se com urna atenção muito especial à criança que sofre (presente em quase todos os livros) e prolonga-se num olhar dorido sobre os socialmente desafortunados, sobretudo visível n’O Cantar da Tila (1967)». (…) «Em fundo adivinha-se a cidade, ao sol dos dias luminosos em que Tila se vai descobrindo mulher, ou sob os tons mais carregados da pobreza dos que a habitam».
É esse “olhar dorido” e atento que a aproxima da família Neo-Realista. Porém…
«Poemas de humanidade profunda e de admirável simplicidade (…) – escreveu David Mourão-Ferreira (1986) – em que a visão do quotidiano, embora dorida, e por ácida que às vezes pareça, nunca chega a ser amarga».
Tivemos a honra de receber MRA bem como A. Torrado na Escola D. Dinis na década de 80.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990