Para demonstrar que na ópera não existem limites para o imprevisto nem para a diversão, há uma diva dramática e temperamental, um aspirante a ilusionista que anda sempre amuado, um toureador arrasa-corações e uma energética e atlética criada. São os protagonistas de um espectáculo dirigido ao público mais jovem, a partir do primeiro libreto escrito por Ana Lázaro, autora, encenadora e actriz natural de Leiria. Com música do maestro Martim Sousa Tavares e encenação de Ricardo Neves-Neves, O Anel do Unicórnio – Uma Ópera em Miniatura é uma produção do Teatro do Eléctrico para maiores de seis anos e tem três apresentações agendadas no Teatro José Lúcio da Silva.
As personagens Faustina Balão, Pedro Patê, Bellini Bel Canto e Tosca, mas, também, o cão (e comilão) Leitmotiv e o gato (traquinas) Don Giovanni al Latte, ajudam Ana Lázaro a construir “uma espécie de comédia de enganos” em que abundam “os trocadilhos” e o “piscar de olhos” a obras do repertório clássico e às regras que lhe servem de estrutura – entre outros exemplos, Bellini Bel Canto é um antigo barbeiro em Sevilha e num dos momentos do enredo surge a confusão entre pesto (o molho italiano) e presto (o andamento musical).
“Há toda uma brincadeira e uma farsa à volta da comida e isto também é uma maneira de temperar a ópera”, comenta Ana Lázaro, que quis “tornar cómico” e “acessível” o libreto e em simultâneo “brincar com as normas da ópera”, que “é uma linguagem viva” e “pode crescer com novos temperos”.
Na sinopse, lê-se que Pedro Patê é um rapaz enfadado pela invulgar sorte de ser filho de dois cantores de ópera e vive ele próprio dentro de uma ópera que nunca acaba, com a música de fundo de uma orquestra que pauteia cada gesto que faz. Farto de ouvir ininterruptamente árias, cavatinas, intermezzos e afins, até no quarto de banho, sonha com a possibilidade de vir a ser ilusionista e descobrir o truque que roube as cantorias das bocas da família apenas com um estalar de dedos.
“O que queremos é agarrar as crianças”, explica Martim Sousa Tavares, citado numa entrevista disponível na folha de sala, sobre o incentivo para os mais novos apreciarem este género artístico. “Acredito que vai abrir portas, porque tiveram um contacto muito mais leve, divertido e é uma janela aberta muito convidativa”.
A desconstrução do ambiente habitualmente solene da ópera inspirou até os figurinos, que partem do período de Mozart e brincam com o excesso de tecido, a dimensão dos vestidos e do cabelo e o exagero de maquilhagem, numa mistura com a imagem de Jane Fonda nos anos 80 e com o mundo do ilusionismo, segundo o encenador Ricardo Neves-Neves, “tentando sempre encontrar alguma novidade e sentido de humor”.
Com aproximadamente 60 minutos, O Anel do Unicórnio – Uma Ópera em Miniatura vai a palco no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, no próximo domingo, 23 de Outubro, pelas 16 horas, e na segunda-feira, dia 24, com sessões às 10:30 e às 14:30 horas.