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Marcelo é um divorciado, hipocondríaco.
Não cultiva a noção de família, faz testes à Covid-19, semana sim semana também.
Passou o Verão na praia a fingir que nos salvava, a ir ao supermercado, a entrevistar-se a si próprio, a gostar (muito) de se ouvir.
Regressado das férias, culpou os portugueses pela propagação (cientificamente inevitável) do vírus, fechou os restaurantes, instituiu estados de emergência, meteu a bonacheirice no bolso, despiu a camisola para vestir um fato que lhe desse mais gravitas de estadista, e foi estagiar, como o bom vinho que é, para o luxo do Palácio de Belém com refeições servidas em porcelanas, assessores e guarda-costas que mantêm a paz nos gabinetes com vista para o jardim.
Reaparecerá, no ecrã, como o Grinch do Natal dos portugueses que anda louco para cancelar, ao mesmo tempo que planeia receber os seus netos formados no estrangeiro pela porta do cavalo de Belém.
Faz o que eu digo, não faças o que eu faço. Costa é um político profissional.
Governa para os números, fingindo emoções. Pela manhã, leva o telemóvel e senta-se na sanita a ler o que dizem dele os jornais, o Twitter.
Dá uma no cravo e outra na ferradura e se se adicionasse outro objecto ao ditado, Costa arranjaria maneira de lhe dar uma também.
Diz isto e o seu contrário, invoca responsabilidades às quais arranja sempre maneira de fugir, inventa teorias, aguenta ministros esponjosos pela culpa das más decisões.
É um gestor premiado, cuja especialidade é o compromisso.
Também andou pelas praias, mais discreto que Marcelo, e concorda com o seu Presidente: a culpa da transmissão do vírus é do ir trabalhar e do estar em família.
Não previu, apesar dos berros que mandou aos cientistas nas reuniões semanais, que isto fosse ficar “assim”.
As escolas em crise, os hospitais cheios, a realidade do País antes da Covid não lhe ensinaram nada.
Acabada a nossa sorte, começada a gestão política do vírus, as coisas pioraram e de que maneira.
Vai dizer que tudo fez para o evitar e finda a sua carreira como PM tomará, quem sabe, o lugar de Marcelo em Belém, e nós, curtos de memória mas finalmente livres da moléstia, ainda o pomos no poleiro mais alto com o sorriso do nossos votos.
Está armado o circo. O espectáculo é uma merda. E nós presos à cadeira.
