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Nasceu com paralisia cerebral e tem um grau de incapacidade de 95%, mas tal não lhe cerceou o sonho de fazer rádio, uma paixão que o acompanha “desde sempre”.
Tiago Saraiva, de 35 anos, é locutor e responsável pela Radio João Paulo II que emite de Fátima para o mundo através do Youtube, num projecto de amor, dedicação e alegria, que conta também com a participação de Lídia Saramago, técnica de educação especial e reabilitação do Centro de Apoio a Deficientes Profundos João Paulo II (CJPII), instituição onde o utente reside desde há 32 anos.
Desde terna idade que Tiago fez da rádio uma fiel companheira, que o acompanha para “todo lado”. “Ouvia muito a Rádio Cidade e os relatos de futebol”, conta o utente, que, ao longo dos anos, foi alimentando o desejo de, um dia, também ele estar do outro lado, em frente ao microfone, a passar música, outra das suas paixões, e “a dar um pouco” de si aos outros.
A Rádio João Paulo II começou a emitir em Outubro 2018, inicialmente como forma de comunicação no interior da instituição, mas acabou por ganhar asas e passou a emitir através do Youtube. Durante duas horas por semana, à quinta-feira de manhã, Tiago sente-se como peixe na água. A acompanhá- lo, está Lídia Saramago que, sem ter qualquer experiência radiofónica, embarcou nesta “aventura” e faz dupla com ele nas emissões.
O pequeno estúdio, montado com equipamento adquirido pela administração da instituição com apoio de mecenas, está instalado na sala de comunicação do CJPII. É também aí que funciona o jornal da casa, intitulado As últimas de sempre, que conta com a colaboração de Tiago Saraiva. O espaço serve ainda para preparar as emissões semanais da rádio, que começam a ser planeadas uns dias antes. Pelo meio, há sempre lugar a algum improviso, assume a dupla de locutores.
Segundo Tiago e Lídia, um dos objectivos da rádio é dar conhecer o que se faz na instituição e o trabalho dos utentes e dos profissionais, seja em formato de notícia ou através de entrevista aos protagonistas como aquela que fizeram recentemente a Diogo Carmo, também a residir no centro e que acaba de lançar um videoclip com a música É a minha vida.
A canção em causa trata-se um rap interpretado pelo jovem, de 16 anos, cuja letra resultou de um trabalho que juntou Diogo e algumas técnicas e colegas da instituição. É, frisa Lídia Saramago, “mais um exemplo” de como o centro procura “ir ao encontro das expectativas, sonhos e ambições dos utentes”, aproveitando também para trabalhar algumas competências.
Por exemplo, no caso do David “estimulou-se a leitura e a escrita”, enquanto Tiago treina a dicção, a fala e a componente cognitiva, explica a técnica. “Temos de atender às necessidades dos utentes, mas não podemos ignorar as suas motivações e gostos”, reforça Lídia Saramago, referindo que foi essa preocupação que esteve na base da criação da rádio, um desejo antigo de Tiago Saraiva.
“Sou muito feliz a fazer rádio. É uma paixão, uma parte importante da minha vida”, afirma o utente, momentos depois de desligar o microfone e de se despedir dos ouvintes até à semana seguinte.
