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Home Opinião

Rock Satânico

António Ginja, arqueólogo e historiador da arte por António Ginja, arqueólogo e historiador da arte
Dezembro 11, 2019
em Opinião
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Por isso entaipava, remendava, emparedava. Cobria, cerzia, repelia, obstinada e compulsivamente expulsando de sua casa qualquer raio de luz.

A casa, desalmada, esmorecia. As janelas, partidas e imundas, acolhiam o frio, mas não a luz. As paredes, despidas de qualquer adorno, tiritavam na sua nudez.

O telhado, destelhado, abria passagem às águas da chuva, que, roendo das vigas a sua podridão, tingiam as paredes em cascatas imundas. O soalho, gasto, esfacelado e apoiado em vigas ratadas, pendia periclitantemente, oscilando entre a direita e a esquerda.

Sempre que a casa tendia num determinado sentido, logo corria a velha a transplantar todos os velhos móveis, monos e quinquilharias. Desenfreada, puxava, arrastava, empurrava. Movia, trazia, conduzia.

Não sossegava enquanto trastes, trapos e velharias não estivessem amontoados na escuridão de um qualquer canto. Descompensada, a casa, suja, fria e escura, pendia cada vez mais, vergando-se sob o seu próprio peso. Um dia a velha, decrépita e esgotada, desapareceu.

Naquela casa desalmada entrou então uma nova família. Achando-a escura, intuíram iluminá-la. Quiseram arrancar as tábuas que entaipavam as janelas, mas temeram que a luz os queimasse.

Quiseram rasgar as lonas que cobriam as frestas, mas recearam que a luz os cegasse. Só a criança quis conhecer a luz. Destemida, escalou o monte de tralha que a velha havia empilhado antes de desaparecer.

Empoleirada sobre aqueles despojos, esticou todo o seu franzino corpo, quase alcançando o telhado. Soergueu-se nas pontas dos pés, estendeu o braço e naquele débil equilíbrio, moveu uma telha.

Soou então um tremendo trovão, ríspido e límpido como o riff de uma guitarra eléctrica, e pela primeira vez em milénios a luz entrou naquela casa. Era quente, mas não queimou ninguém, era brilhante, mas não cegou ninguém.

Quarto a quarto, o seu manto de claridade avançou. Todos os compartimentos se iluminaram, tudo se revelou. Num remoto canto, o mais inacessível e ocluso, a luz incidiu sobre a figura pestilenta da velha.

Corroída, atrofiada e râncida procurara refúgio entre o desespero do seu passado e a angústia do seu futuro. A criança fitou a velha, mas a velha, encolhida na sua miséria, não desviou o olhar.

Num tom de voz que lembrava Mick Jagger, a velha falou. «Prazer em conhecer-te», disse, «espero que adivinhes o meu nome».

Etiquetas: António Ginjaopiniãorockrock satâncio
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