O medo de fracassar, os novos desafios relacionais e as dificuldades familiares ou financeiras são algumas das razões que levam os jovens a sentir ansiedade e depressão. Quando os sintomas afectam o dia-a-dia e se tornam um problema, muitos já não sentem vergonha em pedir ajuda psicológica.
O Politécnico de Leiria disponibiliza, desde 2007, o Serviço de Apoio ao Estudante (SAPE), que oferece consultas gratuitas e “totalmente confidenciais” aos alunos das cinco escolas. Patrícia Pereira e Sandra Alves atendem os pedidos de Leiria, enquanto Luís Filipe é o psicólogo para as escolas da zona Oeste.
“As perturbações de humor, seja com sintomatologia de ansiedade seja depressiva”, são as mais apresentadas pelos estudantes do ensino superior. “Na maioria das vezes, a origem está associada a questões académicas (insucesso escolar, medo de fracassar, ansiedade às avaliações), dificuldades familiares, questões relacionadas com a (re)organização das rotinas diárias e com os novos desafios relacionais ou afectivos (rupturas amorosas, não fazer amigos com facilidade…)”, adianta Patrícia Pereira.
A psicóloga explica que a pandemia “agravou a sintomatologia associada a estas perturbações, mas, em muitos casos, só potenciou as dificuldades que já existiam previamente”. “Desde 2020 que se tem notado o agravamento dos pedidos. A pandemia trouxe uma mudança de todo o conceito de ensino e de aprendizagem e do convívio. Houve o medo de um novo vírus e o isolamento”, afirma Patrícia Pereira, ao acrescentar que no desconfinamento, surgiu o receio de “infectar os familiares”.
A ansiedade e a depressão são o tipo de sintomatologia mais frequente nas consultas, mas também aparecem algumas perturbações de personalidade. E, apesar de menos frequente, os psicólogos também já tiveram de pedir o internamento de estudantes, por razões “associadas a perturbações de personalidade ou quadros de depressão graves”.
Sandra Alves sublinha que tem notado evolução nas gerações e a actual é “mais aberta à diferença” e está “desperta para a questão do auto-conhecimento e das questões relacionadas com a identidade”.
“Estão atentos ao bem-estar e ao mínimo sinal não têm problema em pedir ajuda”, adianta Patrícia Pereira. Alguns, acrescenta, não têm muitas queixas, mas até procuram o SAPE “para desenvolvimento pessoal”.
Atenção às dependências
Em 2020, o SAPE realizou um total de 1.685 consultas, embora até Maio tenha estado reduzido a dois psicólogos. No ano seguinte foram realizadas 2.618 consultas. Até Abril deste ano, os especialistas do Politécnico de Leiria já efectuaram 880 consultas, estando a ser seguidos 350 estudantes.
Estratégias individuais para saber lidar com os novos desafios são uma das ferramentas que os psicólogos dão aos alunos, procurando que possam desviar-se de dependências que alguns já admitem ter. Álcool, drogas ou jogos são formas a que, por vezes, os jovens recorrem para esquecer ou afastar o que os atormenta. “Jogar não tem de ser mau, bem pelo contrário, porque há jogos que são promotores do desenvolvimento de competências, a questão está na disfuncionalidade que isso pode provocar na nossa vida”, alerta Patrícia Pereira, ao lembrar ainda que a faixa etária no ensino superior é a da experiência e testar os limites, pelo que é importante o acompanhamento de quem não se sente bem.
O Politécnico de Leiria disponibiliza esta oferta desde 2007. “As consultas de psicologia são a nossa principal actividade, mas também temos feito formação em competências de mercado de trabalho: tudo o que tem a ver com a comunicação, relacionamento, trabalho em equipa, apresentações orais… Tentamos dar resposta às problemáticas mais associadas ao contexto do ensino superior, que promovam o sucesso mas também o bem-estar”, afirma Sandra Alves.
“Infelizmente, as nossas unidades de saúde não conseguem dar resposta atempada a todos os pedidos, porque têm poucos profissionais e uma população enorme para dar resposta”, constata ainda Patrícia Pereira.
Por isso, há uma “articulação directa com os colegas do hospital” de Leiria, que contacta a equipa quando têm um estudante do Politécnico de Leiria, que poderá ter de esperar muito tempo por acompanhamento mais regular. “Isto é essencial para que a pessoa que está com aquela dificuldade, possa desbloquear e ultrapassar a dificuldade e seguir em frente com sucesso na sua vida”, acrescenta.