O Prémio Nobel da Economia de 2019 foi atribuído, como todos sabem, a três investigadores, dois do Massachutetts Institute of Technology (Esther Duflo, francesa, e Abhijit Banerjee Banerjee, indiano) e um da Universidade de Harvard, Michael Kremer, norte-americano, pelos seus trabalhos no domínio do combate à pobreza a partir da utilização do método experimental na economia do desenvolvimento e, em particular, no combate à pobreza.
Este método consiste em dissecar um problema maior em partes ou vectores, visando entender melhor as suas causas e, daí, realizar uma nova síntese que nos indique soluções viáveis para a resolução do problema em estudo.
Neste caso, a questão principal estudada por aqueles investigadores era perceber quais os fenómenos que concorrem para o flagelo da pobreza nos tempos actuais, num determinado país ou zona específica, e testar as soluções em alguns locais dessa geografia, com grupos de pessoas escolhidas aleatoriamente, antes de as aplicar a toda a população-alvo.
As experiências realizadas seguiram os procedimentos habituais na investigação experimental científica e vem decorrendo desde há duas décadas, em vários continentes, com incidência maior na Ásia, África e América Latina, constando-se resultados bastante positivos nas várias experiências realizadas. Esta metodologia tem feito escola no âmbito da ciência económica, a qual se tem afastado progressivamente das pessoas ao focalizar-se em números – PIB, dívida pública, déficite ou excedente orçamental, taxas de juro, etc., sem cuidar suficientemente do impacto das políticas económicas nas pessoas.
Pode-se duvidar do impacto desta abordagem “micro” na resolução do esmagador problema da pobreza a nível global, em comparação com as abordagens “macro” mais habituais. Contudo, esta metodologia pode ser muito importante se, a partir destas pequenas experiências e dos seus resultados efectivos, os poderes políticos extrapolarem as respectivas soluções para se focalizarem em políticas nacionais mais eficazes para o combate à pobreza nos seus países.
Por experiência pessoal ao longo dos anos, tenho assistido ao lançamento de ambiciosas inic iativas de combate à pobreza ao nível “macro”, no valor de milhares de milhões de dólares norte-americanos, que terminaram abruptamente sem quaisquer benefícios para os pobres e com pesados prejuízos para o Estado o qual, por sua vez, fica com menos recursos para aplicar nesse combate.
Por isso, esta nova economia do desenvolvimento é um bom contributo para se conhecer melhor as variadas c ausas da pobreza e, assim, desenvolver medidas de política eficazes para a combater, aproximando a ciência económica das pessoas e dos seus problemas reais, o que não tem acontecido.