1. Diz-nos o jornal Expresso que “os utilizadores portugueses dedicam em média uma hora e meia a consultar redes sociais”. A notícia não é precisa nesse aspeto, pelo que somos levados a crer que este é o intervalo de tempo diário. A notícia também não esclarece como foi encontrada a amostra, tãopouco saberemos o número, mesmo que aproximado, de utilizadores de redes sociais em Portugal. Mesmo assim, por análise grosseira, é um número que dá que pensar. Vejamos: se um qualquer sujeito gasta 90 minutos por dia, num ano terá gasto 548 horas em tão profícua tarefa.
Ou dito de outro modo: 23 dias num ano de vida. Ou ainda, se assim quisermos: 68 dias de trabalho num ano, isto considerando que fazemos oito horas de trabalho por dia, o que não é o caso de uma boa quota da população que trabalha. 23 dias num ano de vida de um sujeito tem um peso significativo. Sobretudo se pensarmos na quantidade de pessoas que se queixa da falta de tempo que tem para acompanhar os filhos, para estar com a família ou com os amigos, para se instruir, participar na vida comunitária, ou mesmo para descansar.
É desconcertante quando nos apercebemos o tanto que algumas pessoas sabem sobre as minudências de terceiros com quem se conectam em permanência pelas redes sociais, e nada, absolutamente nada, sabem do que sente, pensa ou faz um filho seu, o cônjuge, um familiar.
Desculpem-me o veneno, mas todos sabemos que uma porção significativa do tempo gasto em redes sociais ocorre nos locais de trabalho. Às urtigas o politicamente correto, mas há muita gente – de mais! – que ao invés de produzir está, à socapa, nas redes sociais quando alguém (patrão? Estado?) lhe está a pagar para cumprir o com o seu dever.
68 dias de trabalho é muito ordenado pago para não fazer nada!
O Miguel Sousa Tavares dizia há dias que metade de nós não vota e a e outra metade não paga impostos. Talvez nesta equação se deva acrescentar mais uma variável: a dos que ocupando um posto de trabalho não produzem.
2. A defesa do ambiente é um assunto sério, muito sério. Quem tem responsabilidades deveria tratar a questão com honestidade, sem demagogias, sem mentiras.
Na última campanha eleitoral assistimos à disputa imbecil de partidos a tentarem convencer os eleitores de qual deles era mais ecologista que o outro. Não se discutia a questão ambiental mas sim quem seria o porta-estandarte de uma causa que nos diz respeito a todos e a qual ninguém pode chamar sua.
No entretanto, a causa da proteção do ambiente vai servindo para potenciar mais consumo sem que os tais ecologistas de pacotilha se dediquem ao assunto.
Aprendi que o primeiro dos “R” da ecologia era o de reduzir. Reduzir o consumo, pois então! E o que faz – não só eles, outros também – a cadeia de supermercados Lidl? Uma campanha de sensibilização para salvar o planeta, tendo como público-alvo as crianças. E como se defende esta tão nobre causa? Pois e fácil!
Juntam-se uns selos atribuídos a um determinado valor de compras, colam-se no folheto certo, paga-se mais um tanto e a criança sai feliz e contente, trazendo na mão uma caneca e um peluche, muito ecológicos, muito defensores do planeta, feitos logo ali (neste caso, na China), e claro, sem qualquer pegada ecológica! Melhor forma de defender o planeta não há! Mas onde raio se enfiaram os ecologistas de vanguarda que havia no dia 4 de outubro, que tão caladinhos estão?
*Psicólogo clínico
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990