Gosto pouco, para não dizer que não gosto nada, de reacções impulsivas escritas. Reconheço porém que nem sempre é fácil retirar de nós aquilo que nos provoca a reacção e, ao colocar por escrito, tornar em pura racionalidade aquilo que nem sempre é.
As “redes sociais” são disto o melhor exemplo, mas já o foram os nossos jornais noutro tempo, quando em exercício do direito ao pleno disparate.
Pensar um bocadinho antes de deixar escrito alguma coisa nunca fez mal a ninguém.
Posto isto, deixem-me que vos conte uma história e vos peça ajuda para pensar melhor. Primeiro a história.
O Município de Leiria faz publicar todos os meses uma Agenda Cultural (AC) mais ou menos ilegível e sempre muito incompleta que, ainda assim, serve de veículo de propaganda e registo de um número confortável de eventos a decorrer na cidade.
Toda a gente, toda a gente que eventualmente está a ler isto, sabe disso.
Se a responsabilidade das dificuldades de leitura que coloca, ou que coloca demasiadas vezes, assim como da sua distribuição junto daqueles a quem se destina, é por inteiro do Município, já as falhas no seu conteúdo podem e devem ser partilhadas com os diversos agentes culturais.
Seria injusto no entanto não reconhecer que sem uma equipa [LER_MAIS] autónoma que a pense, a desenhe e a produza ainda se faz muito, como seria injusto não dizer que se faz pouco, se menoriza um instrumento vital para a construção de uma ideia de cidade culturalmente activa e se perde uma ferramenta de comunicação que podia bem ser utilíssima para os artistas e produtores culturais.
Para o dia 12 de Outubro a AC anunciava entre outros eventos a realização de uma Palestra sobre o Castelo (assim mesmo, sem palestrante) às 16h00 na Igreja de São Pedro.
Fui lá ver. À hora marcada não só a Igreja continuava encerrada como não havia nenhum sinal de que fosse abrir alguma vez. Enganei-me, pensei. E fui ao MIMO para ficar a saber que não só não estava enganado, a AC dizia o que eu tinha lido, como que a dita palestra tinha sido adiada para data incerta.
Nem um papelinho na porta da Igreja, nem uma pessoa, nem nada.
No mínimo o Município faz uma AC que, está convencido, ninguém lê. Ou anuncia eventos a que, aposta-se, ninguém vai.
Estranho, não? Ou estou a pensar mal?
*Dramaturgo