Torna-se cada vez mais uma evidência que os velhos paradigmas já não são protótipos de nada.
Na linha do que lucidamente defendem Fry e Harari, que nos alertam para o vertiginoso mundo novo onde o que era padrão ontem, tendencialmente, deixou de o ser hoje, constatamos que à nossa volta tudo mudou a nível pessoal, profissional ou social, e o que não mudou está prestes a mudar.
Os casamentos e as máquinas de lavar já não são para toda a vida e ser doutor ou engenheiro já não garante um emprego de topo, nem sequer um emprego.
A galopante revolução tecnológica e empresarial está a ser levada a cabo por detentores das hard skills, os detentores de capacidades técnicas, ou seja, não tanto por aqueles que “sabem fazer” mas, cada vez mais, pelos que sabem “como fazer”, pouco importando o grau académico superior que detêm, se é que detêm algum, e não por académicos de renome.
É claro que, o desenvolvimento técnico-científico está ancorado em séculos de investigação, mas, hoje, académicos e cientistas já não lideram, nem, tão pouco, são estrelas mediáticas.
Mark Zuckerberg abandonou Harvard, nunca chegando a concluir a licenciatura em engenharia informática, trocando Boston por Palo Alto, para se dedicar a tempo inteiro ao Facebook.
Além de ter criado uma rede social que conta com mais de dois mil milhões de utilizadores, Zuckerberg prepara-se para criar uma cripto moeda sem o escrutínio de governos ou políticos.
Elon Musk, criador da famosa marca de automóveis elétricos Tesla e da aeronáutica SpaceX, que se prepara para oferecer viagens turísticas ao espaço a baixo preço, também abandonou os estudos sem concluir qualquer curso superior.
Já nada é o que era suposto ser, nem sequer [LER_MAIS] o “fim da história” que, segundo a narrativa ocidental, tinha sido atingido com a vitória do liberalismo sobre o comunismo, assegurando que estavam encontradas todas as respostas aos graves problemas da Humanidade.
Na verdade, e tomando apenas o exemplo das alterações climáticas, o que estamos a vivenciar, de forma cada vez mais evidente, é a progressiva e acelerada destruição do planeta e não o proclamado ideal do “fim da história”, que se encontra, porventura, bem longe do seu epílogo, neste mundo cada vez mais niilista em que proliferam quer os problemas globais, como é o caso das migrações em massa, quer os problemas locais, como a corrupção.
O pior de tudo é que já nem sabemos para onde vamos, e cada vez menos somos nós a tomar decisões quanto ao nosso próprio futuro.
As velhas preocupações com os sucessores do Deep Blue acabam de ser materializadas com a recente criação do computador quântico da Google, o Sycamore, que segundo a Nasa tem a alucinante capacidade de fazer cálculos em três minutos que os atuais computadores mais avançados demorariam dez mil anos a fazer.
Os algoritmos estão a dominar o nosso mundo, ameaçando implodir o próprio conceito de liberdade, na era da Big Data em que, a cada segundo que passa, nos transformamos em meros autómatos.
Somos, cada vez mais, prisioneiros em aparente liberdade.
INTERVIR JÁ – Movimento Cívico
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990