Segundo consta, o vereador Gonçalo Lopes será o próximo presidente da Câmara Municipal de Leiria (CML) nos dois anos que se seguem.
Do ponto de vista económico-financeiro, a CML é saudável. Só de IMI, arrecada quase 19 milhões de euros por ano. Portanto, Gonçalo Lopes não terá grandes desafios do ponto de vista da estrutura interna da Câmara (pode é fazer melhorias na sua estrutura organizacional, isso pode e deve).
Os seus maiores desafios serão dois: o primeiro é conquistar um alargamento de bases de apoio no seu próprio partido, o PS. O segundo desafio é, de facto, nos próximos dois anos, mostrar o caminho que Leiria deve seguir, enquanto cidade e município.
Há um artigo científico de 1993, do professor Saul António Gomes, cujo título é: “A Organização do Espaço Urbano numa Cidade Estremenha: Leiria Medieval.”
Nesse texto, o autor é claro quanto à morfologia de Leiria. Já na época medieval, Leiria revelava um “dinamismo económico-social de vulto” e um “núcleo propício à fixação de mão-de-obra inovadora e ao investimento.”
Ou seja, não é preciso haver todos os anos festas medievais na cidade para sabermos que, desde a Idade Média, Leiria já tem o seu código genético definido que é: economia, atractividade de factores produtivos e inovação.
Na semana passada, o primeiro-ministro não foi visitar a Tecnifreza para anunciar 567 milhões de incentivos à inovação? Nos últimos dois anos e meio não tem havido um incremento do Investimento Directo Estrangeiro (IDE) na região?
Várias câmaras municipais não estão a alargar as suas zonas industriais? Portanto, Gonçalo Lopes não precisa de regressar à Idade Média para saber que o principal caminho de liderança que esta cidade deve assumir assenta em três pilares:
1) qualificação dos factores regionais avançados e potenciadores de competitividade;
2) um território atractivo de IDE; e
3) inovação enquanto cidade criativa. Mas este não é o [LER_MAIS] único caminho. Há um segundo. Na Idade Média, Leiria beneficiava de boas acessibilidades (estradas) e, com isso, era uma cidade que se apresentava, segundo Saul Gomes no seu texto de 1993, aberta e comercial.
Quer queiramos quer não, a Rede Cultura 2027 (RC27) deve ter uma posição de liderança a partir de Leiria.
Segundo consta, a partir do próximo ano a RC27 terá desafios que colocarão à prova o seu futuro: i) o modelo de financiamento; e ii) os projectos culturais em cooperação entre municípios e agentes culturais.
A RC27 é uma estrutura pesada e subfinanciada.
Os 26 municípios da RC27 têm uma despesa corrente de 16 milhões de euros em cultura. Aveiro e Coimbra, juntos, têm cinco milhões.
Leiria tem de despesa corrente em cultura 1,5 milhões.
Nesse sentido, a base do modelo de financiamento da RC27 passa, em primeira instância, pelo reforço de verbas de todos os municípios para a cultura e por um modelo de subsidiariedade intermunicipal.
Portanto, o vereador e, talvez, futuro presidente da CML, tem dois desafios bastante claros: 1) afirmar o código genético da cidade (que é a economia, desde a Idade Média); e 2) afirmar a continuidade desse importantíssimo projecto que a RC27.
Boa sorte, Gonçalo Lopes!
*Docente do Politécnico de Leiria