Quando a pandemia ainda travava a actividade turística, muitos proprietários, de segundas residências e de alojamentos locais, disponibilizaram- se para emprestar esses espaços, que estavam vagos, a quem chegava ao País fugido da guerra.
Mas agora, que o turismo retomou, há quem queira desocupar as habitações para as rentabilizar e não há muitas alternativas para os refugiados da Ucrânia. O cenário replica-se em vários pontos do distrito de Leiria.
A situação [LER_MAIS]não está a acontecer só no Algarve, mas também na Nazaré, alertou o vereador João Paulo Delgado, na última reunião de executivo, exemplificando com uma família a quem foram dados “três dias” para deixar a casa.
Na mesma reunião, onde a vereadora Regina Piedade se congratulou pelas 69 pessoas acompanhadas através do Balcão da Ucrânia no município, numa acção coordenada entre várias entidades, Walter Chicharro reforçou a importância de agir “ajuizadamente”. Foi por antever que mais situações de conflito pudessem surgir, que “demos negas a algumas propostas”, por perceber que não iriam atender às necessidades. “A vontade de ajudar é louvável”, sublinhou o presidente do município. Mas não se pode depois “despejar o problema” em cima de outros.
Responsável pela Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, Nuno Batalha confirmou ter prestado apoio a esta família, que teve de sair do espaço onde estava alojada, que pertencia a uma entidade do ramo hoteleiro. Agregado que, entretanto, já saiu do concelho.
“Começa a ser frequente ouvir histórias do género”, lamenta o responsável pela Confraria, que disponibilizou duas casas para acolher refugiados ucranianos. Também ele entende que, muitas vezes, o “voluntarismo” não resolve e que o ideal teria sido entregar a questão dos alojamentos às IPSS.
Vítor Marques, presidente da Câmara de Caldas da Rainha, verifica que este problema se coloca quer nas zonas turísticas de praia quer no resto do concelho. “As pessoas emprestaram por pouco tempo e esperam soluções, até porque, para muitas famílias, é o arrendamento destas casas que equilibra o orçamento”, expõe. “O município tem ajudado, mas é difícil encontrar casa para todos”, porque também é preciso dar resposta a outros munícipes, salienta.
“Sendo nós zona turística, antecipámos o problema e criámos no Centro Paroquial Padre Bastos, numa ala que não estava activa, um centro de acolhimento temporário”, informa Vanda Duarte, adjunta do presidente da Câmara de Peniche. O espaço foi requalificado pelo município e recebe casos urgentes, de forma transitória, para que os utentes possam continuar a trabalhar e a economizar para encontrar habitação. “Vamos receber agora uma recém-mamã, que teve ordem para deixar a casa até dia 20”, exemplifica Vanda Duarte.
Em Leiria, são poucas as situações em que os proprietários cortaram com o apoio oferecido. Tem sucedido sobretudo em situações, cujas condições do empréstimo não foram bem esclarecidas de início, mas o município não tem deixado ninguém sem casa, relata fonte da associação de ucranianos do concelho.