Este título fui buscá-lo a uma obra de Françoise Choay publicada em 2011. É autora de ensaios que introduziram novos modos de pensar a história do urbanismo. No opúsculo La Terre qui Meurt, reúne dois, separados por 40 anos.
O primeiro antecipa a crise da cidade. O segundo constata o fim dos territórios, na sua dupla articulação com a natureza e a cultura.
Choay questiona-se sobre se estamos perante um mero avatar da revolução industrial ou uma obsolescência da espécie humana.
Voltarei ao tema, se me for permitido. Interrompo momentaneamente a invocação da Françoise Choay para contar um episódio que testemunhei.
Em 2005 tive oportunidade de efectuar em avião militar algumas travessias aéreas de África, em missões a Angola e a Moçambique.
Fiz escalas para reabastecimento em diversos aeroportos, e pude, então, observar algumas cidades dessa região.
A baixa altitude, registei fotograficamente as marcas desoladoras da progressão da seca sobre os estabelecimentos humanos. Onde, outrora, o curso dos rios bordejava ruas e praças, emergia agora uma crosta gretada de lama desidratada.
O recuo do rio forçara a retenção dos efluentes e a pasta calcinada pelo sol libertava um pó fino e denso que pairava sobre todo o espaço urbano.
Numa das escalas na República do Níger, as autoridades de serviço no aeroporto, apercebendo-se de que a aeronave transportava um Presidente de um Estado europeu, desdobraram-se em pedidos de desculpa.
Por deficiência de informação, nenhum [LER_MAIS] representante governamental tinha sido mandatado para a ocasião.
O presidente do Níger mandou dizer que fazia questão em compensar proximamente, no voo de regresso da comitiva portuguesa. Três dias volvidos, aguardava-nos não apenas o presidente, mas uma delegação com vários ministros e ministras.
O presidente do Níger convidou o presidente português para uma reunião, que se realizaria de imediato. O objectivo da reunião apanhounos de surpresa. As instâncias governativas do Níger pretendiam sensibilizar as autoridades europeias para a emergência climática a que o país estava sujeito.
Por efeito dela, o caudal de emigração aumentava dia-a-dia.
Os jovens que iam estudar fora não regressavam. – Ajudem-nos a estancar esta sangria, pedia o presidente. – É do vosso interesse impedir que a nossa terra não morra. – De que modo os nossos técnicos possam ajudar? – perguntou o presidente Jorge Sampaio.
O presidente do Níger estava preparado para enunciar alguns projectos.
Recordo um, que particularmente me impressionou. Tratava-se de drenar a humidade recebida na zona montanhosa do país, onde o cume dos montes estava em contacto directo com as nuvens.
Essa água deixara de escorrer até aos vales onde se situavam as cidades. Era preciso furar as montanhas para constituir reservatórios no seu interior, ao abrigo do calor e do contacto com a terra quente e seca.
– Estamos disposto a mobilizar os nossos estudantes para esta tarefa mas precisamos de orientação, explicou o presidente.
*Professor Coordenador jubilado do Instituto Politécnico de Leiria