Escrever. Pintar. Compor. Criar. Conceber um ser humano original acontece em menos tempo, só para início de conversa. Ou monólogo, lamento.
É este o formato crónico em que nos encontramos aqui. Para quem procura dar algum tipo de corpo aos ilegíveis propósitos da alma, o monólogo solitário é ponto de partida recorrente. Criar é ter que viver a vida intensamente fora dela.
É apontar a mira genética à beleza que fica de parte dos dias normais. É chafurdar nos pormenores para lhes encontrar um sentido maior. Um sentido qualquer.
Criar é espatifar-se permanentemente contra a verdade.
Desde o início. Para sempre. Criar não vem de rasgo de inspiração.
Criar é um trabalho sem tempo contado [LER_MAIS] onde se esbanjam horas extraordinárias. Minutos irrepetíveis. Instantes eternizáveis.
Criar é viver ensimesmado e alerta. Sozinho e disponível o tempo todo.
Criar é cansativo também. É colocar a saúde emocional em risco por não conseguir regular os níveis de intensidade numa escala proporcional de sensatez.
É perder a cabeça com contrariedades ridículas por ter o cérebro em background a insistir numa ideia ainda mais ridícula.
Criar é chorar de beleza.
Criar é não perceber nada de nada e, ainda assim, procurar todos os dias uma explicação que faça sentido.
É não a encontrar, a maior parte das vezes.
Criar é fazer a viagem ao contrário. É viver para dentro, a saber que quanto mais interior for a busca, mais universal ela é.
Portanto, da próxima vez que me pedirem um orçamento para “aquelas coisas bonitas que tu fazes” entendam que à parte as ideias e execuções, seria bastante compensador incluir uma linha de excel que equacionasse a sensibilidade como valor acrescentado.
E indiquem-me onde é que se põe o IVA nisto, que eu de contas não percebo nada.
Apesar de as pagar todos os meses.
*Pessoa criadora de conteúdos