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Home Entrevista

Maria João Heitor: “Dizer que depressão é uma ‘doença dos fracos’ é o mesmo que dizer que ter hipertensão arterial é sinal de fraqueza”

Elisabete Cruz por Elisabete Cruz
Janeiro 20, 2022
em Entrevista
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Maria João Heitor: “Dizer que depressão é uma ‘doença dos fracos’ é o mesmo que dizer que ter hipertensão arterial é sinal de fraqueza”
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Como está a saúde mental dos portugueses?
Portugal tem cerca de 23% de prevalência anual de perturbações psiquiátricas na idade adulta, uma das mais elevadas da Europa. Os dados nacionais mais representativos disponíveis são de há perto de uma década e referem que, na população adulta, uma em cada cinco pessoas teve uma perturbação psiquiátrica nos 12 meses anteriores à entrevista. No topo estavam as perturbações de ansiedade e em segundo lugar as perturbações depressivas. No mesmo estudo, quase 65% de pessoas com uma perturbação psiquiátrica não teve qualquer tratamento nos 12 meses anteriores. A brecha de tratamento que mede a diferença entre a percentagem de pessoas que necessitam de tratamento e as que a ele têm acesso é mais pronunciada nos casos de menor gravidade. No entanto, mesmo nos casos mais graves há mais de um terço dos casos que não teve acesso a tratamento.

Com a pandemia esta situação agravou-se?
Sem dúvida. Os problemas ligados à saúde mental e os sintomas que têm sido reportados em diversos estudos, nomeadamente no estudo nacional SM–COVID-19 [Saúde Mental em Tempos de Pandemia], são muito superiores ao habitual, em particular para as ditas doenças mentais comuns (perturbações de ansiedade e perturbações depressivas).

Até quando vamos aguentar todo este contexto pandémico?
O contexto pandémico contém um conjunto de factores indutores de stress. O stress não é uma doença. É um conjunto de respostas do organismo perante exigências, pressões ou ameaças e resulta da interacção entre o indivíduo e o seu meio ambiente. Manifesta-se como um estado de alerta, com respostas biológicas e comportamentais, para repor o equilíbrio fisiológico ou homeostasia. Daí que a resposta de stress não seja necessariamente nociva, é adaptativa. Perante situações prolongadas e exigentes de stress continuado, os mecanismos de regulação podem falhar e a saúde ser colocada em perigo. É importante adoptar medidas preventivas, de gestão do stress no dia-a-dia, tais como, ter uma alimentação saudável, [LER_MAIS]reduzir cafeína e açúcar, ter uma boa higiene do sono, actividade física regular, não fumar, evitar consumo excessivo de álcool, ou mesmo não beber e não consumir drogas. Conviver em segurança entre amigos e família, melhorar a conciliação entre o trabalho e a vida pessoal e familiar, cultivar passatempos ou hobbies e reservar tempo para momentos de lazer é fundamental. E isto é possível mesmo em contexto pandémico. Por isso, sim, há que aprender a viver de forma tão plena quanto possível, com ou sem pandemia.

Quais as alterações neuropsiquiátricas que o SARS-CoV-2 pode causar?
As alterações neuropsiquiátricas em pessoas infectadas decorrem do efeito directo do vírus SARS-CoV-2 no sistema nervoso central, com estados de encefalopatia ou encefalite, ou através da activação de uma resposta imunológica intensa. Se houver uma doença psiquiátrica prévia, o risco de agravamento ou de desenvolver outra patologia é superior. Podem surgir alterações no comportamento, mudanças súbitas na personalidade, diminuição da memória, concentração e atenção, e sintomas compatíveis com um diagnóstico psiquiátrico (psicose, depressão, ansiedade ou mesmo demência), assim como fadiga, insónia e disfunção sexual.

Qual o impacto da pandemia na saúde mental dos adolescentes e jovens adultos?
Independentemente da pandemia, cerca de metade das doenças mentais emerge antes dos 14 anos e 75% até aos 25 anos. Um quarto dos DALYs (Disability-Adjusted Life Years) para perturbações mentais e uso de substâncias ocorre na juventude. No estudo nacional SM–COVID-19, dirigido à população com idade igual ou superior a 18 anos foram sobretudo as mulheres, os jovens entre os 18 e os 29 anos, os desempregados e os indivíduos com mais baixo rendimento quem reportou, mais frequentemente, sintomas de sofrimento psicológico, com queixas compatíveis com ansiedade e depressão moderadas a graves e perturbação de stress pós-traumático. Em relação às crianças, o presidente do Royal College de Pediatria e Saúde Infantil do Reino Unido disse aos membros do Parlamento: “Quando fechamos escolas, fechamos as vidas das crianças” e referia-se em particular ao isolamento e solidão, à redução da actividade física e aos problemas que daí podem advir a nível emocional. Quanto aos estudantes universitários, o estudo “Impacto do Confinamento na Academia de Coimbra”, apesar das suas limitações metodológicas, revelou que “98% dos estudantes afirmaram sentir-se fragilizados” e um em cada cinco estudantes pensou, pelo menos uma vez durante o período da pandemia, em pôr termo à vida. A quebra súbita de relações interpessoais e a dificuldade em se adaptarem a um ensino completamente digital foram algumas das razões apontadas que levaram à “instabilidade psicológica e emocional”. Nos jovens assiste-se a insegurança, medo, tensão, não apenas em relação à pandemia, mas também pelas crises económicas que se sucedem. Há impacto nos estilos de vida, no bem-estar, nos sonhos, e na aspiração para o futuro.

A pandemia elevou as situações de burnout nos profissionais de saúde?
O burnout é um estado de exaustão física e mental, habitualmente circunscrito ao contexto laboral. Resulta, essencialmente, de stress continuado, acumulado e crónico que pode levar a situações de ruptura. Há uma tríade no burnout: exaustão, “despersonalização” e diminuição da realização pessoal. No estudo SM–COVID-19 foram os profissionais de saúde quem mais reportou sintomas compatíveis com burnout.

A pandemia teve impacto na formação dos internos?
O impacto foi heterogéneo, dependendo dos serviços e hospitais em causa. Ocorreu, sobretudo, nos internos do último ano de formação especializada. Muitos tiveram os seus estágios fora do hospital e, em alguns casos, cancelados, adiados ou comprometidos. Foram escalados para o serviço de urgência geral, inclusivamente no circuito de doentes com suspeita de infecção respiratória, além da urgência da respectiva área da especialidade. Foi uma experiência enriquecedora, mas também levou a uma interferência na formação e nas actividades nos serviços de origem. Nos internos que estavam no primeiro ano de formação especializada em 2020 e que faziam inicialmente consultas ombro a ombro com um especialista do serviço, viram esta valência mais comprometida com o recurso, durante um período, às teleconsultas.

Vivemos numa sociedade em que tudo acontece no momento. Qual o impacto dessa rapidez?
O maior e mais rápido acesso à informação leva a uma “infodemia” ou epidemia de informações e à desinformação que daí por vezes resulta. Isto pode conduzir a um menor controlo da qualidade da informação e pode afectar processos de tomada de decisões quando se esperam respostas imediatas e não se dedica tempo suficiente para analisar, com cuidado, as evidências. As pessoas podem-se sentir ansiosas, deprimidas, sobrecarregadas, emocionalmente exaustas e incapazes de responder a solicitações importantes.

Há uma prescrição excessiva de ansiolíticos e antidepressivos?
Temos de separar o que são antidepressivos e ansiolíticos benzodiazepínicos, vulgarmente designados por “calmantes”. Não podemos colocar tudo no mesmo saco. A elevada prescrição de antidepressivos pode significar que perturbações depressivas e perturbações de ansiedade estão a ser mais atempadamente diagnosticadas quer nos cuidados de saúde primários quer nos serviços hospitalares. Por outro lado, há dados publicados que indicam que, por exemplo, durante crises económicas há um aumento de consumo, em particular, de hipnóticos/sedativos, de benzodiazepinas.

Por que ainda resiste o estigma de assumir uma doença psiquiátrica?
Há dois tipos de estigma, o estigma comunitário e o auto-estigma. Este auto-estigma pode ocorrer em mais de 90% das pessoas com doença mental. O estigma é o maior obstáculo para o acesso aos cuidados de psiquiatria e saúde mental. Quanto mais informadas as pessoas estiverem sobre o que é a doença mental e mais literacia em saúde mental tiverem, mais desdramatizados estes assuntos vão estar, e as pessoas doentes e as suas famílias vão-se sentir menos perdidas e saber onde procurar ajuda. Os programas de combate ao estigma devem dirigir-se a todas as idades e aos diversos sectores da sociedade. Estas intervenções devem começar cedo, logo na pré-primária e ao longo de todo o percurso escolar para levar as crianças e os jovens a olharem de outra forma para as pessoas que sofrem de uma qualquer perturbação psiquiátrica. E para que os jovens possam em casa influenciar e ajudar a mudar crenças e atitudes, e também acções.

A depressão é apontada como uma “doença dos fracos”. É falta de resistência?
É um mito, como muitos outros, associado aos problemas de saúde mental. Falar sobre doença mental é ter de enfrentar estigmas. Há um medo de repercussões negativas, da preocupação e vergonha de que seja visto pelos outros como um “sinal de fraqueza”. Muitas vezes é o próprio que tem dificuldade em aceitar o problema e tende a esconder até da família, numa auto-estigmatização. Estes preconceitos impedem a procura atempada de ajuda. A depressão é uma perturbação do humor, há uma alteração na forma como a afectividade e o humor são regulados pelo cérebro. A depressão é uma doença muito comum. Pode afectar qualquer pessoa em qualquer altura da sua vida. Dizer que depressão é uma “doença dos fracos” é o mesmo que dizer que ter hipertensão arterial é sinal de fraqueza, não faz qualquer sentido.

O Serviço Nacional de Saúde dá resposta a problemas de saúde mental?
Portugal tem planos estratégicos e programas muito adequados e actuais na área da saúde mental. Existe uma rede nacional de departamentos e serviços de psiquiatria e saúde mental nos hospitais e serviços de psiquiatria da infância e da adolescência, além de serviços de âmbito regional nos hospitais psiquiátricos. Tem havido um esforço nos diferentes governos, mas continua a existir um investimento insuficiente. É fundamental o alargamento da rede nacional de cuidados continuados integrados de saúde mental que actualmente é claramente insuficiente, em particular para residências de apoio máximo para pessoas com doença mental grave. Também é necessário o desenvolvimento de medidas e programas de promoção e prevenção da saúde mental ao nível dos municípios. Esperamos que o Decreto-Lei publicado em 2021 e o Plano de Recuperação e Resiliência possam contribuir para a melhoria das respostas interinstitucionais, comunitárias e multidisciplinares, e que haja garantia de sustentabilidade deste plano no que toca à alocação de recursos humanos nas equipas dos serviços de saúde mental. É também fundamental que haja uma adequada sinergia entre serviços públicos do SNS, respostas do sector social e do sector privado, para que seja o sistema nacional de saúde, e não apenas o SNS, a dar as respostas aos que delas necessitam.

Qual o impacto do consumo de drogas na saúde mental?
Quero realçar a percentagem elevada de doentes com psicose associada a história de consumos. Para lá da psicose induzida por substâncias (psicose tóxica), que reverte com a suspensão da droga, há uma percentagem de doentes com esquizofrenia em que há uma associação com consumos de substâncias, em particular de cannabis, seguido do consumo de álcool. Isto alerta para a necessidade de informação e sensibilização dos jovens, familiares e professores para estes riscos.

Perfil
Psiquiatra a estudar a Covid-19
Maria João Heitor foi eleita presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental para o triénio 2020-2022. Integra o projecto Saúde Mental em Tempos de Pandemia, que está a ser promovido pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, que tem estudado o impacto da pandemia na população. Directora do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental e do Serviço de Psiquiatria do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, a médica é ainda professora na Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa e investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Membro da direcção do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos, foi directora de Serviços de Psiquiatria e Saúde Mental da Direcção-Geral da Saúde e representante portuguesa junto da Organização Mundial de Saúde

 

Etiquetas: entrevistamaria joão heitorsociedade
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