O Governo proibiu os saldos nas lojas físicas entre os dias 25 de Dezembro e 9 de Janeiro, como forma de evitar aglomeração de pessoas nos estabelecimentos nesta quadra e assim tentar evitar contágios de Covid- 19. Só as vendas online podem ter redução de preços.
Alguns comerciantes da região de Leiria já complementam vendas físicas com vendas à distância e, mesmo assim, sentem que a vertente digital não chega para compensar as perdas totais. Mas é sobretudo para os empresários que ainda não se adaptaram a novas plataformas tecnológicas que as dificuldades são maiores.
Cristina Alves, proprietária de um pronto-a-vestir na Marinha Grande, reconhece que vai vendendo algumas peças de roupa online, através das apresentações de vestuário que vai lançando nas redes sociais. “Mas é uma pequena muleta que não serve para compensar” a travagem de movimento que sente na loja física, garante.
“Hoje fiz algumas trocas, algumas vendas na loja, mas sem descontos. Espero que depois de dia 9 haja mais movimento, até porque tenho clientes que só conseguem adquirir peças no período de saldos”, refere a empresária.
Para os comerciantes que nunca se adaptaram às vendas online, o cenário é ainda mais negro, acredita a lojista, que, apesar das dificuldades, incentiva a classe a manter “paciência e esperança”.
Luís Vasco Pedro, presidente da Associação Comercial e Industrial da Marinha Grande, também refere que grande parte dos comerciantes deste concelho são pessoas com alguma idade e que têm mais dificuldade em conseguir actualizar os seus negócios a nível digital. “Apesar de o Governo já ter feito alguns projectos, para que estas empresas se actualizem, muitas não aderiram”,[LER_MAIS] recorda. “Os que estiverem mais actualizados, que vendam online, vão ter mais capacidade de superar esta fase. Quem não aderiu ao digital sairá mais prejudicado”, acredita.
O responsável espera, contudo, que alguns clientes mais velhos, que não têm o hábito de comprar online, acabem por esperar até dia 9 para poder usufruir de saldos em estabelecimentos físicos. “
O impacto que esta medida tem é muito negativo na economia local. Este era um momento, após as festas de Natal, que era muito aguardado pelos comerciantes. As trocas e os saldos faziam movimentar comércio e serviços”, salienta também Lino Ferreira, presidente da Associação de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo da Região de Leiria.
“O digital é uma vantagem e nós temos sensibilizado os empresários para a importância desta actualização tecnológica. Alguns deles também já vendem online, mas há uma franja que resiste à mudança. E se antes o comércio electrónico não lhes trazia muitas vantagens, hoje tornou-se uma plataforma vital”, frisa o dirigente associativo.
Este período de proibição prejudica vários tipos de negócios e serviços, mas “é um mal necessário”, acredita Lino Ferreira, expectante que, mais tarde, o movimento torne a aumentar nas lojas físicas e com toda a “segurança”.
Bruno Carreira, gerente da loja FIVE, de Leiria, tem uma perspectiva diferente. “Não é lógico fazer saldos a 25 de Dezembro, a 26 ou 27. Devem ter início no dia 10 de Janeiro, como sucedia há alguns anos”, defende o empresário, que não acha “justo” para o cliente, que se façam enormes descontos repentinamente, o que também não oferece “credibilidade” às marcas.
“Mais de 50% das marcas com as quais trabalhamos mantêm preços todo o ano, seja em loja física, seja através de venda online”, observa.
Paulo Pinto, CEO da La Redoute Portugal, explica que o negócio online tem corrido bem por estes dias, sendo que foi possível obter matéria-prima suficiente, ao contrário do que sucedeu no final do ano passado, quando a actividade da La Redoute só não cresceu mais por ter sido afectada pela falta de stocks. “Temos agora mais stocks, ao nível de 2019, com o mercado a reagir bem no mês de Dezembro”, observa o responsável por esta loja online de moda e casa. E com três lojas físicas, todas inauguradas depois de Outubro de 2020 (Lisboa, Porto e Leiria), é no comércio online que a La Redoute continua a ter a sua maior actividade (acima de 97%). Paulo Pinto não tem dúvidas de que o futuro do sector passa por complementar a oferta de estabelecimentos físicos com o comércio electrónico. No caso da La Redoute, as lojas físicas servem como showroom, onde os clientes podem ver os artigos, antes de os adquirir online. Trata-se de uma conjunção importante para o consumidor, que se reveste de especial valor quando em causa estão artigos mais dispendiosos, salienta Paulo Pinto.