Mora em Picassinos há 70 anos e garante que a qualidade de vida da população desta localidade da Marinha Grande, bem como a de outras vizinhas, se deteriorou largamente desde que foi criado o Aterro Sanitário de Leiria, nos Parceiros. Mas a situação agravou-se, aponta Carlos Wilson – que também já o referiu enquanto deputado municipal – não só porque não tem havido chuva para dissipar o odor, mas também porque a cortina arbórea que rodeava o aterro foi cortada, gerando ainda “maior desconforto junto da população”.
“É uma situação terceiro-mundista”, que incomoda não só quem mora na Marinha Grande, em lugares como Albergaria, Picassinos, Comeira e Embra, como quem reside do lado de Leiria, em Mouratos, Parceiros, Cavalinhos ou Barosa[LER_MAIS], “dependendo da direcção do vento”, observa o deputado.
“Já fizemos reuniões com a Valorlis e dizem-nos que o seu sistema é de compostagem e não de incineração. Estamos condenados a viver com isto”, prossegue Carlos Wilson.
“Percebemos que têm de tratar dos resíduos, mas não dentro da povoação”, expõe o morador, que não sabe até que ponto estes gases não são nocivos para a saúde.
Aurélio Ferreira, presidente da Câmara da Marinha Grande, reconhece que “tem havido mais cuidado na gestão dos resíduos, embora não seja suficiente”. “Vamos continuar a pressionar para que minimizem os impactos, mas a ideia deles não será sair daqui tão cedo”, acredita o autarca.
A Valorlis diz que “aplica na sua gestão as melhores práticas” e que “o Aterro Sanitário de Leiria é uma obra de engenharia moderna, concebida e operada no cumprimento rigoroso da legislação em vigor, aplicando as melhores técnicas disponíveis”.
Entre as quais: o biogás produzido pela degradação dos resíduos orgânicos (biorresíduos) é recolhido por uma rede de tubagens dispostas vertical e horizontalmente no seu interior, de forma a maximizar a área de sucção criada no aterro, evitando a fuga do biogás para a atmosfera; o biogás é canalizado para um sistema de aproveitamento energético onde é utilizado como combustível para produção de electricidade; adopção de sistema de neutralização de odores, orientado segundo os ventos dominantes.
Quanto ao corte de árvores na envolvente do aterro, “medida legalmente imposta no âmbito do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais”, associada à ausência de pinhal após os incêndios de 2017, “levou a uma situação mais desfavorável em termos de percepção de odores”, reconhece.
Para minimizar o incómodo, está reforçar o seu sistema de neutralização de odores e, em paralelo, a implementar a recolha selectiva de biorresíduos, que implica a construção “de uma linha específica para a sua valorização orgânica, possibilitando a sua conversão em energia eléctrica e composto, evitando a sua deposição em aterro”.