Foi para a Ucrânia há seis meses “atrás do sonho de ser jogador de futebol”. Estava a descansar de um dia de treinos quando foi acordado durante a madrugada “com barulhos de explosões e mensagens da equipa a dizer que a guerra tinha estourado”.
Alessandro Filho arrumou tudo o que tinha mas acabou por sair de Kiev apenas com uma mochila com a qual teve de caminhar 35 quilómetros com os colegas para chegar à Polónia. “Depois demorámos um dia a passar a fronteira porque havia muita gente e eu só pedia a Deus que isso passasse”, recorda o brasileiro de 23 anos que ainda tem presente “os barulhos das explosões” e “as ruas com tanques de guerra e soldados”.
O destino passou a ser Leiria, onde tem família. “Continuo à procura do sonho e acredito que será um bom recomeço”, confessa, ao fim de uma semana na cidade onde já começou a treinar com Maciel Cunha, um ex-avançado da União de Leiria.
Uma década depois de ter deixado de carregar o castelo ao peito, o jogador que veio para a cidade do Lis pelas mãos de Mourinho e passou pelos dragões quer ajudar jovens a seguir o sonho do futebol.
Maciel voltou para lançar o filho, mas aproveita para treinar o jovem que fugiu da guerra e procurar o talento de quem queira aprender “as experiências boas e más” de uma vida dedicada à bola.
Com o castelo, o estádio e o rio Lis em pano de fundo, os treinos têm sido feitos num campo improvisado no Jardim da Almuinha Grande.[LER_MAIS]
Aos 43 anos, o brasileiro mostra-se “orgulhoso com o crescimento da cidade” e admite estar “numa torcida enorme para que o clube possa voltar para a segunda e depois para a primeira [divisão], que é o lugar onde nunca deveria ter saído”.
Um sentimento partilhado pelo filho que acaba de chegar à cidade onde nasceu, depois de viver e jogar vários anos no Brasil. Com 19 anos, Mateus Cunha está a treinar no Marinhense e assume que quer seguir as pisadas do pai.
Na equipa de treinos também já entrou o Pedro Abdon. “O meu pai agenciava jogadores e eu acabei a querer fazer isto”, conta o jovem de 14 anos que regressa à cidade onde nasceu, depois de viver nove anos no Brasil, “à procura de melhores condições de vida” e de um percurso que está a começar pela formação unionista.
Sonhos que se misturam em treinos onde a experiência guia a vontade de correr pelos objectivos. “Estou muito feliz por estar de volta e poder ajudar os mais novos com tudo o que sei, com e sem bola”, remata Maciel.