Nunca um único líder europeu assumiu, publicamente, que a Europa só não fez muros para travar migrantes de África, do Médio Oriente e da Ásia porque nunca precisou de os fazer.
O velho continente dispõe de um enorme e eficaz muro, não construído pelo Homem, que evita termos à nossa porta milhões de migrantes.
O Mediterrâneo, a avaliar pelo número de pessoas que mata, funcionando como uma cerca eletrificada (em média morrem ali afogadas seis pessoas por dia), deixa o velho continente de mãos livres para apontar, hipocritamente, o dedo aos que, justa ou injustamente, querem evitar êxodos de dimensões bíblicas, como está a acontecer na América Central.
É claro que os Estados Unidos da América (EUA) têm uma culpa enorme, no que diz respeito ao desespero daqueles que rumam a norte e que, se em vez de ter explorado os seus vizinhos, os tivesse ajudado a ter condições de vida dignas, nada disto estaria, porventura, a acontecer.
Nem tão pouco, nós europeus, somos propriamente isentos de culpa no que concerne ao saque dos recursos naturais dos países pobres.
O abastado mundo ocidental tem vivido, nos últimos séculos, à custa do sangue, suor e lágrimas dos povos que escravizou e espezinhou. Falamos dos devaneios de Trump (que são imensos), quando na realidade também não somos exemplo, para povo algum, em nenhum tempo da História.
Ainda recentemente, menos de cinquenta migrantes aguardaram, a bordo do navio humanitário Sea Watch3, ao largo do porto de Siracusa, num impasse que uma médica voluntária portuguesa a bordo classificou de “espera [LER_MAIS] insustentável e indigna”, dado que a demora, dos países da Europa em tomar uma decisão, fez degradar as condições de vida a bordo levando a condições humanitárias limite.
Foram cinco países a acolher menos de meia centena de pessoas, o que dá pouco mais de meia dúzia de pessoas por país.
É caso para questionar o que faríamos se não houvesse um “muro” chamado Mediterrâneo? Enquanto isto, criticamos os excessos de Trump porque este barrou a entrada a sete mil pessoas.
Essa caravana, maioritariamente constituída por famílias desesperadas que apenas fugiam da fome, fez a “travessia” mesmo sabendo que os militares enviados por Trump estavam à sua espera na fronteira, com armas apontadas e com ordem para disparar.
Agora imagine-se um Trump moderado, provavelmente, teríamos milhões de pessoas a caminho dos EUA.
A Europa, e a Espanha em particular, que tem uma enorme responsabilidade histórica relativamente à miséria que se vive por toda a América Latina, o que fez além de apontar o dedo?
Já que é tão solidária, por que é que a UE não mandou dois ou três navios para resgatar essas sete mil pessoas que se encontravam a caminho da fronteira americana?
Além de ser solidária, a Europa, que precisa desesperadamente de pessoas, beneficiaria da nada despicienda vantagem de evitar a perigosa hegemonia, entre portas, do mundo islâmico, um barril de pólvora que, por razões demográficas, em menos de duas gerações, nos rebentará nas mãos.
*INTERVIR JÁ – Movimento Cívico
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990