Será que a cidade onde vivemos será algum dia Capital Europeia da Cultura? Relembro aulas antigas de marketing territorial e lembro-me da noção de posicionamento: aquilo que nos faz preferir um produto, um destino, uma empresa, uma tribo. Aquilo que diz de um produto, um destino, uma empresa, uma tribo – eu sou isto, sou diferentes de todos os outros produtos, destinos, empresas, tribos, escolham-me a mim.
Podia tentar encontrar um posicionamento para Leiria, uma coisa que lhe estivesse nos genes, na alma, nas gentes. Só me lembro do parque automóvel, da genica empresarial, da Ribeira dos Milagres, dos Concertos para Bebés e do Há Música na Cidade. Não me parece suficiente para uma Capital Europeia da Cultura, mas suponho que a megalomania é uma característica portuguesa.
Quem não se lembra das anedotas de antigamente em que havia sempre um inglês, um francês e um português e invariavelmente o português era o maior em tudo?
Muito antes e em vez de, Leiria deveria ter um caderno de encargos extenso, cheio de pequenas e médias façanhas, em vez do feito gigantesco.
Como resolver os cadáveres esquisitos dos edifícios mortos que assombram a cidade, mudar a localização esdrúxula das passadeiras, revitalizar o Jardim Luís de Camões, prevenir o caos anunciado na rotunda D. Dinis, promover soluções para os centros comerciais moribundos da cidade, dar uma nova cara ao feíssimo edifício da Escola Superior de Educação e ao horripilante edifício que parece uma praça de touros e onde se vai instalar a Assembleia Municipal de Leiria.
Leiria tem tanto para caminhar [LER_MAIS] e resolver antes de querer ser Capital seja lá do que for: zonas de lazer, zonas verdes, residências universitárias, articulação dos transportes públicos com os horários escolares, aumento da capacidade das creches e jardins-de-infância, estacionamento, iluminação e wc´s públicos no percurso Polis, pequenas estruturas para a prática desportiva, o amianto nos edifícios.
A cidade tem tanto para se arrumar ainda, enquanto estrutura onde vivemos e onde podemos fruir a realidade da cultura. E depois a programação cultural profissional onde está? E os edifícios da autarquia que tardam em ser alguma coisa?
E o mais importante de tudo: a criação de públicos – tarefa para mais de uma geração – de públicos críticos, para que o verdadeiro desenvolvimento ocorra? Onde está o apoio consistente, necessário e articulado à energia criadora dos movimentos culturais da cidade?
Onde estão mecenas, patrocinadores e apoios para que a cultura seja a festa da cidade, como no belíssimo exemplo do Há Música na Cidade, o festival onde uma cidade respira música?
Há uma gigantesca diferença entre querer e poder. Pensem nas associações que fazemos instintivamente quando pensamos em locais: Évora – património, Algarve – praia, Açores – natureza, Lisboa e Porto – cosmopolitismo, Coimbra – Universidade, Marinha Grande – indústria, Óbidos – eventos temáticos, Leiria -?
Pois, percebem o que quero dizer?
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