Está confirmado: D. José Ornelas, até agora bispo de Setúbal, é o novo titular da diocese de Leiria-Fátima. A tomada de posse será a 13 de Março.
Sai D. António Marto, que deixa uma marca de “proximidade” entre os diocesanos, nomeadamente entre crianças que carinhosamente tratava por “amiguitos e amiguitas”.
Entra um prelado com experiência missionária, que é uma das figuras mais proeminentes na Igreja em Portugal, presidindo, desde 2020, à Conferência Episcopal (CEP).
Em comum, António Marto e José Ornelas têm o alinhamento com o Papa Francisco em questões como a investigação dos abusos sexuais no interior da Igreja, tendo sido duas vozes fortes na defesa da constituição da comissão independente recém-criada em Portugal.
O carácter “afectuoso” e próximo com que desempenhou as suas funções, associado às suas capacidades como teólogo, são, no entender de vários membros da diocese, a principal marca deixada por D. António Marto.
Em relação ao novo bispo, há quem destaque o facto de o Papa nomear para a diocese uma das personalidades mais importantes da Igreja nacional.
“D. José Ornelas é, enquanto presidente da CEP, a pessoa mais proeminente no episcopado português actualmente. É uma pessoa muito capaz e uma escolha importante para a diocese”, salienta Luciano Guerra, ex-reitor do Santuário de Fátima, que confessa “uma satisfação muito grande” pela nomeação.
Do legado de D. António Marto, o sacerdote aponta “a forma como usou os seus dotes de intelectual e teólogo” na elaboração de documentos importantes. “É um bispo apreciado, que teve de enfrentar situações difíceis, não só a doença, mas outras da vida da diocese”, refere.
Um “digno embaixador de Cristo”
Presidente da Comissão Diocesana de Justiça e Paz, Fátima Sismeiro considera que D. António Marto deixa “uma marca de afectuosa proximidade, discreta mas sempre sentida, de cuidado e preocupação pelos outros, de sentido de justiça e de conciliação”. Foi, diz, “um digno embaixador de Cristo no governo pastoral” da diocese.
“Também por isso, vejo a nomeação de D. José Ornelas com tranquila alegria e gratidão pela sua disponibilidade e generosidade”, acrescenta Fátima Sismeiro, “confiante de que do serviço pastoral a que agora é chamado com a sua sabedoria e carisma, brotarão igualmente frutos pastorais abundantes”.
“A posição de qualquer bispo é a de estar ao serviço da Igreja e da comunidade. Será seguramente isso que acontecerá com D. José Ornelas, de quem se espera um trabalho de continuidade, com alguma inovação”, antevê o presidente da Cáritas Diocesana, José Marques, para quem a principal marca deixada pelo bispo que agora sai “foi a da proximidade com as pessoas, além das suas capacidades como teólogo”.
Também Filipe Ferreira, presidente do Movimento da Mensagem de Fátima, destaca a postura de “acolhimento” e de “proximidade” de D. António Marto, nomeadamente em relação à actividade da organização que lidera.
O dirigente recorda ainda “a simplicidade e atenção que dava às crianças”. Quanto à nomeação de D. José Ornelas, encara-a como “mais um sinal de que a nossa Igreja é sinodal”, considerando que se trata de “uma pessoa muito capaz, competente e atenta ao mundo que nos rodeia e à realidade da Igreja”.
Diocesanos no coração
A saída de D. António Marto já era aguardada, sendo públicos o seu desejo de cessar funções e os problemas de saúde que enfrentava, associados a um certo desgaste e cansaço motivados por algumas polémicas em torno do Santuário de Fátima.
Na mensagem de despedida aos diocesanos, o agora bispo emérito de Leiria-Fátima agradece a compreensão “paternal, amiga e afectuosa” do Papa ao atender ao seu pedido de renúncia, que justifica com o aproximar do limite de idade para o exercício da função, os 75 anos que completa em Maio, mas também por sentir “maior limite das forças físicas e anímicas para exercer adequadamente o cargo face às exigências pastorais da Diocese e do Santuário de Fátima”.
D. António Marto reage ainda com “louvor e júbilo” à nomeação de D. José Ornelas, destacando a sua experiência missionária, mas também como bispo de Setúbal e presidente da CEP.
“Tem dado provas de uma experiência pastoral aliada a um dinamismo missionário duma Igreja próxima e em saída, capaz de tomar decisões corajosas e inovadoras, na linha do propósito de renovação do Papa Francisco ”, afirma, convicto de que o novo bispo será capaz de “imprimir um novo impulso à renovação pastoral da diocese e do Santuário de Fátima”.
“Amei e continuarei a amar com toda a minha alma esta Igreja de Leiria- Fátima e os seus fiéis”, diz na mensagem que deixa aos diocesanos. E acrescenta: “Levo uma riqueza que não trocaria por todo o ouro do mundo: os nomes e os rostos de todos vós, sobretudo, dos meus amiguitos e amiguitas”.
Por seu lado, D. José Ornelas diz que parte para este novo desafio com “total disponibilidade” para acolher aquilo que a Igreja lhe pede. Em comunicado, o novo bispo realça a “amizade fraterna” que o liga a D. António Marto e dirige-se à comunidade diocesana com o desejo de que “juntos” procurem “escutar o chamamento de Deus a toda a Igreja, convocada para um caminho sinodal de escuta, comunhão participada e missão”.
Faz ainda menção ao reitor do Santuário de Fátima e a “quantos com ele servem este local especial de referência para a Igreja e o mundo” e pede a Nossa Senhora que o “acompanhe” nesta nova missão.
O reitor do Santuário agradece a “solicitude pastoral” de quem sai e dá as boas-vindas a quem entra. “Não tenho dúvidas de que [D. António Marto] ficará no coração dos peregrinos de Fátima quer pela sua proximidade, quer pela profundidade da sua reflexão sobre Fátima”, afirma o padre Carlos Cabecinhas, desejando “as maiores felicidades” a D. José Ornelas.
Experiência missionária