Roubei, sem vergonha mas com deferência, o título deste texto a Aldous Huxley, que publicou em 1932 um romance passado num futuro distópico.
Nesse mundo novo, as crianças são produzidas em úteros artificiais e programadas desde a nascença para determinadas castas. Em reservas isoladas que podem ser ocasionalmente visitadas, vivem pessoas bárbaras, nascidas pelo método natural e com línguas diversas.
O livro trata, em suma, de uma sociedade totalitária que decide o que os seus membros fazem, como fazem e o que podem pensar.
Dissidências não são toleradas – aliás, a história não acaba bem para o inconformado protagonista.
O ano de 2019 iniciou, literalmente, com a tomada de posse de Bolsonaro como presidente do Brasil.
Nos poucos dias de exercício, já ouvimos a histérica ministra da Família (que viu Jesus num pé de goiaba) a berrar “menino veste azul, menina veste rosa”, enquanto o seu séquito aplaude.
As terras indígenas estão prestes a ser entregues aos gigantes do agronegócio porque… bom, são indígenas.
Pretende-se impor os valores conservadores professados por evangélicos radicais, e a militarização da sociedade está a caminho.
Mais a norte, nos EUA, Trump insulta quem é diferente – no caso os imigrantes – com o apoio de uma larga margem da população. Procura impor práticas [LER_MAIS] e valores conservadores (mesmo se ele não os pratica…) e tenta reduzir a credibilidade dos media e o acesso à livre informação. Procura, com o apoio de supremacistas brancos, impor uma visão distópica do que é permitido.
Existe, atualmente, um odor a fascismo no ar. Está presente em todo o lado, da América à Europa.
As justificações divergem: seja o capitalismo a entrar numa fase pós-democrática, um período de instabilidade até à próxima vaga de globalização, ou o poder do politicamente correto. Saberemos, no futuro, os motivos.
Agora, cabe-nos a todos evitar que se caia no “admirável mundo novo”. Combatendo ferozmente e sem pudores quem defende ou almeja pelo fascismo, mesmo que sob a desculpa de conhecer, democraticamente, as “opiniões polémicas”.
Todo sabemos como os fascistas se aproveitam da democracia para a destruir. Os democratas devem estar atentos, vigilantes e combativos – sem luvas de pelica.
*Professor e investigador
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990