A necessidade de transitar para o online devido à pandemia permitiu que a ajuda dos Alcoólicos Anónimos chegasse a mais pessoas, nomeadamente a quem vive mais afastado dos centros urbanos e que, devido à distância, tinham mais dificuldades de participar nas reuniões presenciais.
“Se não fosse a pandemia e a transição para o digital, muita gente que vive no interior não teria tido a oportunidade de contactar com os AA e iniciar o seu percurso longe do álcool”, constatou António, secretário-geral dos AA, à margem do Fórum Nacional de Serviço que a comunidade realizou, este fim-de-semana, em Fátima.
Em declarações ao JORNAL DE LEIRIA, o dirigente diz que a pandemia acabou por se revelar “uma ajuda”, porque permitiu que a ajuda da comunidade chegasse “mais longe”, a sítios onde não havia grupos, incluindo a portugueses que trabalham no estrangeiro.
“Temos hoje gente do interior do País, cujo grupo mais próximo presencial está a 50, 60, 70 quilómetros, que consegue estar bem, sem beber, fazendo reuniões online de Alcoólicos Anónimos”, afirmou António, reconhecendo, no entanto, que também terá havido casos de pessoas que se “afastaram” por “não terem apetência e competências” para o digital.
Contudo, a convicção do secretário-geral dos AA em Portugal é que essas situações terão sido em “muito inferiores” aos novos membros que adeririam à comunidade devido à maior facilidade de acesso às reuniões online.
Com o aliviar das restrições, 86% dos 88 grupos de AA registados em Portugal antes da pandemia retomaram as suas reuniões. Há ainda cinco grupos que funcionam exclusivamente online e 12 que irão optar por um formato híbrido.
Estão também já a funcionar dois grupos com reuniões específicas para mulheres que, “sem excluírem ninguém”, tem como objectivo “debater o alcoolismo no feminino”.
Cerca de 75% dos membros são homens
No encontro realizado em Fátima, onde se debateram formas de continuar a ajudar “mais e melhor” as pessoas que sofrem de alcoolismo, foi também divulgado um inquérito, efectuado no 2021 aos membros do AA, com cerca de 300 participantes
Os dados revelam quem cerca de três quartos dos membros da comunidade dos AA são homens e um quarto mulheres. Quanto ao situação profissional dos inquiridos, 50% estão empregados e 35% são reformados. Os restantes estudam ou encontram-se desempregados.
A maior parte dos inquiridos teve conhecimento dos Alcoólicos Anónimos através do profissional de saúde ou de um amigo ou familiar. Perto de 8% soube através de internet.
Sobre o que os AA trouxerem à sua vida, a maior parte apontou mais estabilidade emocional, familiar e reintegração social.
Os dados apontam também que cerca de 13% dos inquiridos tem entre 21 a 30 anos de sobriedade continuada e 14%, entre 16 a 20 anos.
Há ainda 36% que não bebem há menos de cinco anos e 17% entre 5 a 10 anos, enquanto 11% mantém-se sóbrio entre 11 a 15 anos.
Para os AA basta uma pessoa parar de beber para ser “uma grande vitória”. “O alcoolismo é uma doença que nos destrói completamente, emocionalmente, fisicamente e mentalmente”, sublinha o secretário-geral dos AA em Portugal.
Estima-se que, em Portugal, existam cerca de 600 membros dos AA.