Retomo de novo o Orçamento do Estado (OE), agora aprovado na especialidade, depois das quase 1000 propostas de alteração que acabaram por não fazer grande mossa no documento inicial.
Não é, por isso, exagerado dizer que temos o governo da “Geringonça” a caminho de cumprir os seus quatro anos de legislatura. Este sucesso era impensável por muita gente há três anos atrás, mesmo por muitos que estiveram envolvidos nesta “descoberta da pólvora”.
Tudo isto foi resultado da grande capacidade política e negocial de A. Costa e de uma esquerda que, afinal, é inteligente, embora nem sempre. E, pasme-se, algumas vezes pragmática q.b..
Sempre que vejo Jerónimo de Sousa à frente das suas “tropas” nos comícios que realiza pelo país fora e observa os rostos tristes dos “comicieiros”, o Secretário Geral do PCP atira: “Bom, não era bem isto que a gente queria… mas a alternativa não era melhor, pois não?”
A “velha raposa” afinal tem mostrado ser um grande líder e um bom apoio da geringonça com a sua expressão, rara num político, de que “palavra dada é palavra honrada”.
Só tenho pena que ele não tenha tido mão nos exageros das estruturas sindicais que reivindicam, a torto e a direito, como se este governo pudesse ser responsabilizado por toda a perda de rendimentos dos governos de Sócrates e Passos Coelho.
De uma coisa estou certo: se se concretizassem todas as “restituições” do tipo, por exemplo, dos professores, o país voltaria inevitavelmente à “cepa torta”.
O passaporte para este estado de coisas foi, sem dúvida, a difícil ginástica da aprovação final do OE2019, sobretudo ao transpor a maior parte dos obstáculos das quase 1000 propostas de alteração em que o bom senso acabou por se [LER_MAIS] impor na rejeição da maioria delas.
E já agora, para que não digam que sou faccioso, deixem-me dizer que apreciei bastante o papel do líder do PSD e o seu domínio da conhecida lei-travão, que acabou por impor à sua bancada, mostrando que afinal não é tão mau como o pintam.
Fiquei satisfeito por antever nisto leves sinais de aproximação(?) porque, de há muito, estou convencido de que só teremos medidas de política profundas, estruturais, se existir uma convergência mínima entre os dois maiores partidos do espectro parlamentar.
O que interessa afinal é que temos OE a tempo e horas para o próximo ano que, como se diz no Expresso, “se lembra de quase todos”. E fá-lo com um notável e quase inédito equilíbrio orçamental e uma apreciável redução da dívida pública.
Centeno ainda podia fazer melhor se não desse corda larga a coisas como a “moda” das reduções do IVA. Primeiro foram os restaurantes, agora também os espectáculos, incluindo as desconcertantes touradas.
Com isto, está-se a ajudar quem não precisa. Como tem sido evidente, os empresários não reflectem essas reduções de IVA nos preços dos bens e serviços. O que significa que mantendo os preços (quando não os aumentam ainda) estão a “engordar” as suas margens de lucro de forma ilícita. E isso é feio, para não dizer coisa pior.
Mas, como se diz acima, o OE lembra-se de todos…
Economista