Sei um ninho Sei um ninho. / E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho, / Tem lá dentro um passarinho
Novo. / Mas escusam de me atentar: /
Nem o tiro, nem o ensino. / Quero ser um bom menino /
E guardar / Este segredo comigo. /
E ter depois um amigo / Que faça o pino / A voar…
Miguel Torga
É festa do Sol, é festa da Terra, é festa dos homens de boa vontade, é festa dos animais, é festa da alegria, é festa de todos nós! Celebramos todos, homens, animais e terra, celebramos o “ponto de solstício de Inverno que nos arrasta a todos para a Primavera”.
Na noite mais longa do ano, na noite do solstício de Inverno, os antigos celebravam o nascimento da luz e a natureza adormecida, fazendo oferendas aos deuses, grandes fogueiras à volta das quais se reuniam e partilhavam os produtos agrícolas da época – a abóbora, os frutos secos, o mel, o pinho e o azevinho.
Quando a terra se encontra no ponto da sua órbita mais distante do Sol, começa o novo ano. Celebramos hoje o nascimento de Cristo, o que nos tempos mais antigos era a festa do Sol. “Para a maioria – fora os miseráveis, o que faz muitas excepções – é uma paragem quente e clara no Inverno cinzento”, dizia Yourcenar na sua Glosa de Natal.
É para todos nós a celebração de um nascimento desejado, com amor, por todos partilhado e inclusivo. A celebração desse nascimento implica a participação de tudo, dos animais às palhinhas do berço para aquecer, da gruta no deserto, da congregação de vontades para um mesmo objectivo – o nascimento do menino.
A mãe, o pai, a vaca, o burro, o anjo, a estrela, os pastores, os dançarinos, as lavadeiras, os três reis magos, todos se dirigem para o ponto de todos os pontos. Nesta festa da fraternidade, do amor ao próximo, de partilha, de regeneração, todos [LER_MAIS] estão incluídos, do Oriente ao Ocidente.
A festa da terra é antes de tudo a comemoração da vida, da esperança e da consciência – sabe-se o quão extraordinário é uma vida, sabe-se que não se sabe como, mas sabe-se que é manifesto em que todos participam, terra, homens e animais, e que é da interacção de todos os elementos que a obra acontece.
Sabemos dos caminhos diversos e diferentes onde a dor e a alegria estão par a par. No nosso Natal é momento de ver as orquídeas amarelas e castanhas da serra, o verde do musgo nas pedras, as bolas vermelhas do azevinho, sentir o cheiro da murta, descobrir os ovos nos ninhos e ouvir os cantares da passarada e da água!
No nosso Natal é momento de reunir a família e amigos à volta da lareira, ao sabor de uma filhó e celebrar a vida!
Desejo a todos boas festas, plenas de serenidade e energia!
*Arquitecta