Charles Leadbeater entende que alguns dos grande achados culinários resultam da combinação de apenas dois elementos.
Os exemplos, tirados do cardápio inglês, podem não ser muito convincentes para os amantes da gastronomia mediterrânea (“bacon and eggs, fish and chips, tomato and basil, gin and tonic”), mas funcionam como aperitivos para o prato seguinte.
O mesmo se passaria com as cidades: o seu sucesso ou insucesso depende da combinação de dois factores: sistema e empatia. O sistema assegura o funcionamento da cidade: transportes, saúde, educação, poder económico e financeiro. Sem ele, as cidades não seriam competitivas. Mas é a empatia que as torna humanas.
O crescimento urbano, sem paralelo no passado, e a concorrência entre cidades, obrigam a uma permanente atenção ao sistema, exigindo investimento e modernização. Mas, e a vida urbana? Estamos mais preparados para enfrentar desafios juntos, mais interessados em estabelecermos relações uns com os outros, mais confiantes no auto-governo?
As cidades desenvolvem programas para atrair visitantes, grande eventos desportivos, musicais ou artísticos. Outras desenvolvem projectos urbanísticos e arquitectónicos de modo a valorizarem-se como destino de um turismo cultural em expansão. Mas encaram os seus habitantes temporários como meros portadores de carteiras, mais ou menos recheadas, ou como portadores de conhecimentos com os quais importaria estabelecer uma relação de troca?
Empatia implica generosidade e assenta na partilha. A empatia significa que os cidadãos estão disponíveis para se encontrarem com [LER_MAIS] os visitantes, e não apenas para lhes fornecerem serviços pagos, significa que a cidade cuida dos dispositivos favoráveis a esse encontro, lhe dispensa tempo, meios adequados, ou seja, se preocupa realmente em aprender com quem chega de novo e está disponível para proporcionar condições que enriqueçam a experiência pessoal dos visitantes.
Estamos a falar de pequenos dispositivos que facilitam a convivialidade, desde a proliferação de pequenos cafés e restaurantes à disponibilidade pelas lojas, nomeadamente livrarias, de equipamentos para descanso e leitura, a disseminação na cidade de espaços públicos de pequena dimensão preparados para quem queira passear, sentar-se ou conversar.
Talvez as cidades pudessem sujeitar a concurso de ideias o tema de como melhorar a sua empatia e alocar anualmente a esse objectivo uma parte do seu orçamento participativo.
Outro dos dispositivos recomendável consiste na montagem de organizações de voluntários para a recepção e encaminhamento dos que vêm de fora em busca de eventos ou espaços públicos.
A mediação, envolvendo os membros da comunidade, pode ser – e são inúmeros os casos que o demonstram – um poderoso factor de empatia.
A tendência para estruturar o marquetingue das cidades em torno de grandes festivais pode ter um efeito perverso sobre a empatia da cidade: gerar fluxos de novos visitantes que se sentem afinal estranhos em terra estranha.
*Docente do Instituto Politécnico de Leiria