Aquele futuro distópico que víamos em filmes do século passado apanhou-nos de repente quando já não estávamos à espera. Apanhou-nos na curva e agora, de alguma forma, toca-nos mais de perto.
O Brasil está à beira de eleger um fascista assumido, uma personagem abominável, carregado de ódio e intolerância e isso não nos devia deixar indiferentes. O futuro distópico é agora o presente.
Minimizar isto com o discurso de redes sociais do “isto é um voto contra a esquerda corrupta”, ou com a “necessidade de liberdade de expressão” e “combate ao politicamente correcto” é não só abjecto como falacioso.
E, na perspectiva daqueles que estamos na comunicação social a tentar informar contra a desinformação – sim, porque, mais uma vez aqui repito, a imprensa não tem de ser imparcial, tem é de ser honesta e verdadeira – isto não pode ser visto como uma questão de esquerda vs. direita, nem sequer, de “bem contra o mal”. É muito mais que isso. Um corrupto pode ser levado à justiça. Um ditador fascista é a justiça.
É difícil perceber a amnésia histórica que por aí anda. O coiso é ainda pior que o seu congénere coiso do Norte do Continente. [LER_MAIS] O coiso é um perigo saído directamente de um livro de história – capítulo “acontecimentos 1924-1945”, ou algo do género – e assume-se como tal.
É directo, aberto, intencional. Quer exterminar minorias, quer “meter as mulheres no sítio”, quer moral e bons costumes à lei da bala e respalda-se na outra violência gigantesca de que o país há muito é vítima. É um fascista e di-lo sem papas na língua.
E o pior é que quem o segue e quem o idolatra, lá como cá, vê esse “sem papas na língua” como a única coisa que importa. A forma acima do conteúdo. E quando o conteúdo é o ódio visceral, a intolerância e a ditadura, se é de direita ou de esquerda não devia importar para nada. O
que está a acontecer no Brasil é um horror e que não haja dúvidas que esse horror agora tem em Portugal as portas muito mais abertas. Era só isto.
*Editor-in-Chief VICE Portugal