A percepção do que seria o “meu-Portugal-lá-fora” vacilou na sequência do Campeonato Mundial de hóquei em patins de 1974, quando fomos novamente campeões mundiais.
Fernando Adrião e António Livramento deslumbravam-nos até à emoção e o entusiasmo era tanto à volta desta modalidade, a única em que incrivelmente conseguíamos ser os melhores do mundo, que, com a inocência própria da juventude, julgávamos ser falados e conhecidos em todo o mundo e que todo o mundo se rendia à nossa “arte” do hóquei em patins.
Mas foi um duro golpe o que sofri quando vi logo depois no Diário de Notícias a reprodução da notícia saída num jornal francês sobre esta nossa “fantástica vitória”: 14 linhas, escondidas num dos recantos de uma das páginas do desporto!
E a percepção deste “meu-Portugal-lá-fora” vacilou ainda mais, logo a seguir, quando adquiri um livro sobre os grandes navegadores. Essa tradução de uma edição francesa, lembro-me bem, só mencionava um navegador português: Fernão de Magalhães.
Neste caso, a estranheza deu lugar à indignação! Indignação que se tem atenuado, mas que teima em voltar recorrentemente. Que voltou de novo, a semana passada, quando comprei a revista Super Interessante, edição especial História, aliciado pela capa: a imagem de uma nau e o título Grandes Aventureiros.
Lá dentro, passados os Viajantes da Antiguidade, fala-se de Fernão de Magalhães e de Elcano, e de Marco Polo, e de Colombo e mais Colombo e, então aí sim – porque tinha que ser – o “Duelo Ibérico”, e o Tratado de Tordesilhas, e os Reis Católicos e mais Colombo e mais as naus de Colombo e mais Castela e, timidamente então, D. João II e Bartolomeu Dias e Vasco da Gama. Porque tinha que ser…
Busquei a ficha técnica: publicação espanhola, [LER_MAIS] colaboradores espanhóis e italianos, sem o contributo de investigadores portugueses. Longe de mim o sentido arrivista e nacionalista do passado, de má memória e que tanto também nos prejudicou. O que me preocupa é que a Cultura também vive da memória e da História e num mundo globalizado, à falta de melhor expressão, as culturas que não se dão a conhecer, que se desleixam, que não se mostram, são esquecidas e obliteradas. E isso é muito injusto, para além de não reflectir com rigor, para o bem e para o mal, o devir da Humanidade.
Como referir as grandes viagens da humanidade sem falar nas viagens de Bartolomeu Dias ou de Vasco da Gama (que o astronauta Neil Armstrong referiu como a grande viagem dos tempos modernos, que se pode comparar com a da ida à Lua), como falar em personalidades régias com visão estratégica do futuro e que marcaram a modernidade sem falar insistentemente em D. João II?
Como não falar em Fernão Mendes Pinto, ou na prioridade da chegada – cada vez mais comprovada – dos portugueses à Austrália? A História – está mais que visto – faz-se também à medida das grandes potências.
Por isso, a grande sorte de Colombo não foi apenas a de ter descoberto – por acaso – um novo continente. Foi sobretudo a de ter descoberto um continente onde 300 anos depois se viria a formar uma grande e poderosa nação: os EUA.
*Professor