Também porque vos quero falar de outras coisas, parece-me bem dar por terminado aqui este folhetim de homenagem, muito privada e muito discreta, a Tito Larcher (TL), criador e director do Museu de Leiria, com que me tenho entretido ao longo de meses. Espero ter entretido mais alguém.
A longa entrevista de TL publicada no Jornal de Leiria, faz agora 100 anos, não terminou ainda mas desvia-se para outros objectos que não o Museu e é o próprio entrevistado que lhe apressa o final, cansado certamente, farto de repetir episódios de falta de respeito, ignorância crassa e criminosa prepotência.
Eu gostava que se tivesse percebido ao logo desta saga pelo menos três coisas: em primeiro lugar, que a figura deste bracarense que soube lutar como nenhum leiriense ao tempo pela defesa do património da região é digna de uma atenção e reparação que até hoje nunca lhe foi feita devidamente.
O mesmo já dizia Acácio de Sousa em 1997 quando foi publicado pelo Arquivo Distrital o livro, solitário, pioneiro e referencial de que é co-autor com Ana Bela Vinagre, Tito Larcher: A Luta do Filantropo Austero e Erudito.
Em segundo lugar, que TL é na verdadeira acepção do termo [LER_MAIS] uma verdadeira personagem teatral. Uma personagem sem palco ou, melhor, para quem Leiria bafienta, reacionária e retrógrada é o palco onde trava uma batalha permanente para afirmar os valores da liberdade, da educação e da igualdade de possibilidades.
Em defesa destes valores esgotouse e esgotou os seus rendimentos até à tragicomédia mais pungente. Ao ponto de por exemplo: “(…)[a mulher] pôr, por vezes, um livro na mesa, no local que deveria caber à refeição do marido” ( ref. acima, p. 21).
E por último, que o combate de TL é tão premente em 1918 como hoje. Como diz José Mattoso no prefácio ao livro referido acima: “(…) porque, a verdade, é que a História repete-se. Ou seja, continua a haver demasiada gente pouco convencida dos benefícios da difusão cultural. Lutar por ela continua a ser um combate pela liberdade e pela plena consciência de ser pessoa autónoma e responsável, pela plena intervenção do homem na escolha do seu próprio destino (p. 7).
Tito Larcher nasceu em Braga em 1860 e morreu em Leiria em 1932. Há 100 anos deu corpo e alma ao Museu de Leiria e a cidade agradecida deu-lhe uma pequena rua. Sem saída.
*Dramaturgo