Premières Solitudes é o título do recente documentário de Claire Simon, que fui ver na edição deste ano do 15.º Festival Internacional de Cinema INDIELISBOA.
Foi numa sessão para escolas, rodeada de adolescentes curiosos, de cabelos coloridos, borbulhas na cara e muita irreverência.
Em cada rosto, manifestações muito próprias do seu adolescer.
No filme, um grupo de seis adolescentes conversam entre si sobre o olhar atento da câmara de Claire. Estão no 11.º ano e frequentam a disciplina de cinema num liceu nos arredores de Paris, onde se conheceram pela primeira vez. Mas também poderia ser num liceu português nos arredores de Lisboa, do Porto, de Coimbra ou até mesmo em Leiria.
A adolescência é uma etapa complexa do nosso ciclo de vida. Sabemos disso. Primeiro por experiência própria, porque também fomos um dia, lá atrás, adolescentes e é importante não nos esquecermos disso.
Depois, na relação com os nossos filhos, sobrinhos, jovens. Também na observação diária da nossa sociedade e na sensação de que esta dificulta mais do que devia a exigente tarefa de crescer.
Talvez por isso, a adolescência capta o [LER_MAIS] interesse de tantos outros realizadores como a Sofia Copolla, o Gus Van Sant, o Larry Clark, entre outros. E eu, através das suas lentes, tenho a oportunidade de aprender mais de como ser e estar na relação com os nossos jovens.
Isto porque, como sempre nos disse António Coimbra de Matos com o seu olhar de entusiasmo, a adolescência é “um tempo da existência em que tudo pode ser perdido (o período do desencadeamento das grandes perturbações da personalidade) e quase tudo pode ser ganho (o período em que a correcta intervenção terapêutica mais rápida e eficientemente encaminha para a evolução sadia) e em que tudo ainda é remediável”.
No filme, em conjuntos de dois ou três, os rapazes e as raparigas falam espontaneamente sobre as suas vidas, dos pais presentes e ausentes, da solidão, das idas ao psicólogo, mas também das suas memórias, dos países de origem, das paixões, dos anseios e dos sonhos para o futuro.
E é aqui que surge no seu discurso sobretudo o medo do futuro. Um dos protagonistas refere: “Para mim o futuro é assustador, tenho medo, ainda não me consigo projectar no futuro” (sic). Na sala, um silêncio partilhado nos rostos atentos ao ecrã.
Eu própria me questionei e inquietei. Sabemos que na transição da infância à vida adulta, rompe-se um equilíbrio antigo supervisionado pelos pais e geram-se conflitos relacionados, por um lado, com a capacidade do jovem assumir a mudança e, por outro, com tolerância com que o meio externo aceita as mudanças que o jovem se prepara para fazer.
Se o adolescente se sente ligado aos seus pais por vínculos seguros em que predomina o amor e a aceitação, também progride mais em autonomia e na construção da sua identidade.
Contrariamente, quanto mais inseguro, mais dependente é do exterior, do olhar do outro, em detrimento das suas capacidades psíquicas internas. E assim espreita mais o medo do que o entusiasmo.
Porque na passagem para a idade adulta e, citando as palavras de Xavier Pommereau, “quando o adolescente se sente mal… é preciso saber ouvi-lo, compreendê-lo, amá-lo!"
*Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta