Não, este não é um texto sobre futebol, mas já que o refiro, parabéns ao país que saiu vitorioso do recente campeonato do mundo e que deixou “furibundos” uma quantidade substancial de racistas que não perderam tempo a invadir as redes sociais com considerações imbecis e “piadas” de mau gosto.
E nem a questão dos festejos com graves distúrbios (sempre lamentáveis, obviamente) legitima observações de puro ódio racial. Esses comportamentos disruptivos em grupo, muitas vezes potenciados por álcool e drogas, não são exclusivos dos gauleses. Já não se lembram dos desacatos que houve no Marquês de Pombal, em 2015, quando o Benfica celebrava o bicampeonato?
Não, não vale a pena acusarem-me de “esquerdalho” porque me estou a borrifar para “esquerdas” e “direitas”.
Enquanto responder aos meus imperativos de consciência estou bem comigo mesmo. Agora que o artigo vai perder o interesse entre aqueles que gostam é de “sangue”, vamos ao que realmente me trouxe aqui: entre 1986 e 1994 mandei vir discos de algumas distribuidoras postais da Europa.
“Distribuidoras postais!?” – perguntarão os mais novos. Sim, venda de discos por catálogo. Uma espécie de “bandcamps” pré-internet onde, não se podendo fazer um preview áudio das músicas, decidíamos a sua compra através dos textos [LER_MAIS] que acompanhavam a foto de cada disco.
Estou a falar de edições “obscuras” de editoras independentes, de música que, decididamente, não era mainstream e que não passava na rádio. Adquiri muitos discos de bandas belgas, alemãs, italianas e jugoslavas.
Mas já nessa altura o contingente maior e que mais me agradava era, indiscutivelmente, o de bandas francesas: Achwghâ Ney Wodei, The Grief, Von Magnet, Little Nemo, Étant Donnés, Kas Product, Die Bunker, Dazibao, Die Form, Mary Goes Round, Norma Loy, Complot Bronswick, Art Zoyd, Martin Dupont, Asylum Party, Clair Obscur, Opera Multi Steel, Collection D’Arnell-Andrea, End Of Data, Charles de Goal, Guerre Froide, XRay Pop ou Trisomie 21 encabeçavam a lista.
Hoje, passados mais de 25 anos desde que estou envolvido na organização de concertos, reparo que também foram as bandas francesas (algumas citadas ali em cima) que tiveram preponderância na hora de programar alguns dos festivais da Fade In.
Curiosamente, a próxima aposta chama-se Blind Delon e apresenta-se ao vivo já amanhã, dia 20 de Julho, na Stereogun em Leiria, em mais um dos episódios-relâmpago do FADEINFESTIVAL 2018.
A experiência revelou-me que na música, seja em que género for, os franceses têm tendência a ser esteticamente arrojados e sem preconceitos nas miscigenações estilísticas, o que lhes confere estarem, quase sempre, à frente do seu tempo. “Avant-garde”, pois então! "Só” por isso já saímos todos a ganhar. Viva à França!
*Presidente da Fade In