Adoro livros. Desde sempre. Não tenho muitas memórias de quando era mesmo pequenina, mas lembro-me de ter livros do Bolinha, e quando ainda os encontro por aí sinto um calor reconfortante no coração difícil de expressar.
Tenho a colecção toda da Anita, que o meu pai me lia quando me ia deitar porque eu tinha medo de dormir sozinha. Coitado… às vezes eram dois e três de uma vez – tinha de ser até eu adormecer!
Quando comecei a ler por mim, devorei as colecções infantis da praxe, mas passei por períodos um tanto ou quanto conturbados para descobrir a minha identidade enquanto leitora, porque os meus gostos não são lá muito coincidentes com os do outro leitor lá de casa…
Ficaram a faltar-me muitos clássicos e li muita coisa que hoje sei que foi um total desperdício de tempo, mas o que quer que fosse que eu quisesse ler sabia que podia sempre encontrar na Arquivo. E como eu adorava ir à Arquivo!
Lembro-me bem do meu deslumbramento com o corredor de espelho, e adorar saber que ia chegar o dia em que iria estudar para a Arquivo quando fosse grande, porque fechava às onze da noite e tinha cafetaria. E o frenesim que foi quando fiquei de plantão à espera da meia noite para poder comprar o Harry Potter acabadinho de sair?
O meu primeiro cartão de cliente de sempre foi o da Arquivo, [LER_MAIS] e às vezes pedia embrulhos para coisas que eram para mim, só para poder ver a Jéssica ou a Luz a executar aquele ritual do laço colorido e para o poder contemplar em casa, antes de o abrir e me pôr a examinar todos os pormenores do livro acabadinho de comprar, cheirar-lhe o papel, espreitar o final a medo.
A minha história com os livros conta-se com a desta livraria, e agora que faço parte dela enquanto colaboradora, depois de ter visitado tantas livrarias incríveis do mundo, e de vir a assistir ao decair de algumas delas, não posso senão sentir um imenso orgulho de ver que a minha livraria continua de pé, resistente e confiante, viva, sem ter de cobrar entrada ou de ser um mero ponto turístico.
As pessoas não sabem o difícil que é uma livraria destas manter-se viva. Ser uma livreira é dedicação, amor, prazer em olhar para uma pessoa e tentar saber o que é que ela quer ler, descortinar o que ela precisa, às vezes com momentos tão cómicos quanto os da Livreira Anarquista. É uma arte ameaçada, em vias de extinção. Mas ainda vivemos.
Por todas as livrarias lindas que são obrigadas a ceder, por todos os livreiros que sabiam de tudo e que encontravam sempre aquele livro, por todos os amantes da literatura. Estamos cá e vamos continuar! Parabéns Arquivo! Ainda bem que existes!
*Activista