Junho é mês do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Desde 1880, quis Portugal celebrar-se tendo como representante o poeta Luís de Camões, que com o seu sentido lírico e épico narrou a epopeia portuguesa Os Lusíadas.
Dia 10 de Junho de 1580 pensa-se ser o dia da morte de Luís de Camões, sendo o dia e o mês, com derivações de conteúdo e forma, em que celebramos o Dia de Portugal, há já 138 anos. Rumo à cidade invicta e já com meio dia passado, ligo o rádio para que no intervalo do telefone (em alta voz) vá ritmando o dia.
Na Antena2 discutia-se a portugalidade e os sentires portugueses pelo mundo fora. Onésimo Teotónio Almeida (escritor, catedrático na Universidade de Brown, organizador do 10 de Junho 2018 US), dizia que uma das particularidades da portugalidade é o afecto, os beijos e os abraços.
O gesto revelado é de proximidade física e espiritual. E donde nos vem este gesto? Esta forte ligação terra-mar, finitoinfinito, esta coisa atlântico-mediterrâneo, esta emergência de ver o que há para lá a que a curiosidade não resiste, um possível mundo inteiro, que leva à partida e à despedida e ao beijo e ao abraço? Diz Eduardo Lourenço (entrevista ao jornal Público, 2015) que “o corpo e a sombra da alma portuguesa está ligada à liberdade e à vontade.
A diversidade do meio pede partilha e “as barreiras naturais que separam os homens, uma vez vencidas, fundem-nos melhor” (VITOR PALLA e COSTA MARTINS- Lisboa Cidade Triste e Alegre, ed. 2018) Os Lusíadas narram a epopeia portuguesa que nos levou a mares talvez nunca antes navegados ou antes talvez já navegados em pontos.
Talvez os lusitanos tenham desenhado a linha com as rotas que navegaram. A minha ida à Invicta deve-se à homenagem a meu amigo Bartolomeu Costa Cabral, homenagem à pessoa e à obra.
Obra arquitectónica onde a contenção espacial [LER_MAIS] que a arquitectura plasma é reveladora de um gesto poético que o gesto matemático alicerçou. Gestos reveladores de uma ética, de um conhecimento da acção humana com e/no meio, de um assumir da relação com o outro, à atenção ao lugar, ao tempo dos passos e à criação de espectativas. Para o meu amigo a beleza é um fim em si mesmo, o mal não tem conteúdo.
Beleza, abraço e beijo, a alma portuguesa, construíram assim a minha tríade da portugalidade.Junho é também mês de Solstício de Verão, este dia grande que Sophia de Mello Breyner nos diz que : “Comecei a escrever numa noite de Primavera, uma incrível noite de vento leste e junho.
Nela o fervor do universo transbordava e eu não podia reter, cercar, conter – nem podia desfazer-me em noite, fundir-me na noite. No gume da perfeição, no imenso halo de luz azul e transparente, no rouco da treva, na quási palavra de murmúrio da brisa entre as folhas, no íman da lua, no insondável perfume das rosas, havia algo de pungente, algo de alarme.
Como sempre a noite de vento leste misturava êxtase e pânico." E nós, aguardamos que renasça das cinzas todo um território, todo um Portugal, que faz, este Junho de 2018, um ano de descida às trevas e nos obrigou a pensar o gesto que afirmará o viver aqui e a indissociabilidade da participação e responsabilização de todos nós.
*Arquitecta