A casa onde viveu o escritor Eça de Queirós, durante o tempo em que foi administrador do concelho de Leiria, localizada no centro histórico, está a ser usada por “dezenas” de jovens que, ao final da tarde, se juntam no edifício.Os moradores da zona alertam para os perigos de segurança que a situação acarreta e pedem às autoridades que actuem, ordenando o fecho do imóvel.
“Se no meio da brincadeira há um foco de incêndio, será ‘um grande 31’, pondo em perigo todo o quarteirão”, adverte Mário Sobreira, que reside na zona histórica. O morador adianta que a câmara e a PSP “já foram alertadas”, mas “tardam em agir”, num caso que, alega, “é de solução fácil”, com o “emparedamento” da porta principal, a mesma que, por cima da soleira, tem uma placa a evocar a permanência de Eça de Queirós no local em 1870-1871.
Além do “mau aspecto” de ter um imóvel “com importância histórica” vandalizado e usado para “todo o tipo de excessos”, uma vizinha do espaço teme pela segurança de quem reside nas imediações. “Um cigarro mal apagado, uma brincadeira mal calculada, pode ser um perigo. Será que é preciso haver uma desgraça para que se faça alguma coisa?”, questiona.
Fonte próxima do proprietário, um empresário do ramo da construção com outros imóveis no centro histórico de Leiria, conta que, numa das visitas que fez ao local, para mostrar o prédio a potenciais investidores, encontrou “dezenas de jovens e adolescentes”.
A mesma fonte revela que o apartamento existente no piso superior da casa, um T5 que esteve habitado até há “quatro ou cinco anos”, também foi “destruído”. “Não estamos a falar de sem-abrigo, que aí procuram um refúgio, mas de jovens que não se preocupam em estragar”, afiança.
O vereador Ricardo Santos adianta ao JORNAL DE LEIRIA que o Serviço Municipal de Protecção Civil esteve no local esta segunda-feira, “confirmando a utilização por desconhecidos”. Na sequência dessa visita, “o proprietário do imóvel está a ser notificado para emparedar o vão ou encerrar a porta de forma suficientemente segura, de maneira a impedir o acesso ao seu interior”.
Também a PSP “tem conhecimento de que a porta do referido imóvel pode ser facilmente arrombada e que, por vezes, alguns indivíduos acedem ao seu interior”. A polícia assegura que, “aquando do conhecimento da primeira situação, em Junho de 2020”, a câmara foi informada, “no sentido de serem implementadas medidas de segurança passiva que impedissem o arrombamento da porta”.
A PSP garante ainda que, quando é detectada “alguma intromissão no edifício, são realizadas diligências com vista à identificação dos indivíduos que o terão feito” e a averiguar se foi cometido “algum outro ilícito além da intromissão em espaço privado”.
O Plano Estratégico Municipal da Cultura, aprovado no ano passado pela Câmara de Leiria, propõe que a autarquia compre a casa onde viveu Eça de Queirós, localizada na Travessa da Tipografia, para a transformar num centro interpretativo. Questionada sobre o ponto da situação deste dossier, a câmara refere que, “sendo o imóvel propriedade de privados, o processo está dependente de um processo de negociação e dos valores envolvidos”.