Há cerca de 2 meses recebemos no Mosteiro da Batalha alunos de uma escola próxima. Dos 16 alunos do 9.º ano, nenhum conhecia o Mosteiro. Dos 36 alunos do 8º ano, dois… já tinham entrado na Igreja. Mais uma vez fiquei preocupado.
Apesar do meio milhão de entradas em 2017, que o coloca como um dos monumentos mais visitados do país, a verdade é que só 25% se referem a visitantes portugueses. Estes números evidenciam um défice de fruição cultural por parte dos portugueses e um crónico desinteresse pelo Património e pela sua História. Reflectem falta de cultura, e, em última análise, de sentimento identitário.
Na Grã-Bretanha, por exemplo, verifica-se o oposto: cerca de 80% dos visitantes dos museus e monumentos são cidadãos britânicos e cerca de 40%, estudantes. Na tentativa de perceber o que poderá justificar algum desse défice cultural, confronto-me sempre com este número tão trágico: em 1970, 30% dos portugueses eram analfabetos. Por comparação, o último ano em que a Finlândia e a Suécia tiveram esse índice de analfabetismo foi em 1780, e a França e a Inglaterra em 1840…
Sempre poderemos questionar sobre o que andam as escolas e os seus professores a fazer, mas eu não o farei. Sou professor e conheço bem os constrangimentos e dificuldades do desafio constante de ensinar e educar.
E também sei que o problema de “falta de cultura” não pode ser imputada às escolas, muito menos aos professores e até mesmo aos programas escolares. Também conheço o que de ponto de vista cultural se faz por essas escolas além, tão extraordinário, grande parte em contexto extra-curricular, de absoluta resiliência, embora, inexplicavelmente, pouca atenção mereça da sociedade em geral, dos media em particular.
Mas a verdade é que em Educação e Cultura não se pode somente “esperar por”; é essencial “ir ao encontro de”.
[LER_MAIS] Em Inglaterra, por exemplo, o English Heritage (organismo que, à semelhança da nossa Direcção-Geral do Património Cultural, tutela grande número de monumentos e museus), sempre colocou no centro das suas preocupações estratégicas o serviço educativo e a pedagogia do património, que entendem dever ser emocionante, apelativa e vinculadora.
E porque essa é uma responsabilidade de todos, foi essa uma das primeiras preocupações quando chegámos à direção do Monumento: a de “requalificar” o Serviço Educativo para tornar as visitas mais atractivas e emocionantes.
Em dois anos as encenações contribuíram para um aumento de 37% do número de alunos que visitam o Mosteiro. Aos alunos costumo dizer, com frequência, que quando procuramos o “valor” do Património, devemos também ter em conta a raiz etimológica do vocábulo.
Explico-lhes que do mesmo radical latino se originou pai, pátria, património. Também lhes digo que na língua inglesa essa “cumplicidade” semântica é muito mais linear: Heritage/Herança, também é Heritage/Património.
E se nos apropriarmos do sentido destes vocábulos acharemos uma excelente definição: Património é aquilo que se herda dos nossos antepassados (ou pais), que faz parte de uma herança comum, que uma comunidade identifica como sua (Pátria). E que se torna imperativo conhecer, amar e cuidar. Também lhes digo que a nossa Pátria pode ser todo o Mundo. *Professor