Confesso que tenho ficado surpreendido pelo anúncio público da intenção de candidatura de um vasto conjunto de cidades/regiões (novidade!) para a atribuição de Capital Europeia da Cultura em 2027.
Até parece que no nosso País temos uma estratégia e uma política cultural bem delineada e com níveis de participação acima da média.
Mas, infelizmente, julgo que não será nada disto que está em causa, apesar de reconhecer o mérito e empenho das Autarquias Locais, no apoio inequívoco às mais diversas iniciativas culturais de âmbito local, sejam companhias de teatro, filarmónicas, ranchos folclóricos ou outras. São diferentes formas de fazer cultura, mas que representam em muitas situações verdadeiras e únicas escolas de formação e de vida a muitas crianças, jovens e adultos.
Bastará pesquisar e tentar encontrar apoios do Ministério da Cultura ou das suas Direcções Regionais a tanta gente que faz cultura, na sua esmagadora maioria exercendo esta actividade por amor à causa, para constatar a importância atribuída a esta área.
Situação comprovada com a recente confusão quanto aos apoios no âmbito das candidaturas ao Programa de Apoio Sustentado da Direcção-Geral Artes, que provocou, inclusivamente, a necessidade de intervenção do Primeiro-Ministro, numa clara desautorização do Ministro da Cultura.
Neste caso falamos de tantos profissionais que dão o seu melhor para a tal formação e consolidação de um público presente e conhecedor, mas não podemos esquecer tantos e tantos voluntários pelo nosso Portugal a fazer um trabalho de longo prazo para tentar garantir a generalização da oferta cultural, dentro de muitos condicionalismos e dificuldades.
Ora, é mais ou menos neste cenário que não consigo perceber como é que já existe uma boa dúzia, ainda se esperando mais, de manifestações de vontade de garantir o tão pretendido estatuto de Capital Europeia da Cultura.
Num País com a nossa dimensão, seria inteligente congregar esforços e sinergias para a construção de candidaturas fortes, com qualidade e pertinência, e não, de repente e à boa maneira portuguesa, eu quero ter porque o meu vizinho também tem!
[LER_MAIS] Esta tendência tem a sua expressão máxima no distrito de Leiria! Depois de há já algum tempo termos conhecido a intenção do Município de Leiria, num trabalho liderado por pessoa de inegável qualidade, o Prof. João Bonifácio Serra, eis que temos conhecimento da decisão da comunidade intermunicipal do Oeste em estudar essa possibilidade!
Se, na minha opinião, o processo de Leiria deveria ser mais abrangente e inclusivo, muitas dúvidas oferece o modelo de 12 municípios tentarem uma candidatura, quando até o regulamento parece não permitir este tipo de associação, ainda para mais não se conhecendo quem poderia liderar este processo.
Com toda a legitimidade para quem tem que tomar essas decisões, é inexplicável que o distrito de Leiria se “parta”, mais uma vez, por um objectivo meramente de circunstância e não seja possível construir uma estratégia concertada entre os seus 16 concelhos, mesmo estando em Comunidades Intermunicipais diferentes.
*Presidente da Comissão Política Distrital do PSD Leiria