A diversidade de expressões artísticas, de públicos e de territórios é a principal marca dos seis projectos aprovados, este ano, pela Rede Cultura 2027, com um apoio total de 100 mil euros.
Promovidos por associações do concelho de Leiria, contam com a participação de organizações de outros municípios da rede e irão desenrolar-se em vários pontos do território abrangido.
Embalar idosos ao serão
Um dos projectos aprovados é o Serão com avós, um programa de artes através do qual a Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP) pretende embalar idosos institucionalizados em cinco concelhos da região. O objectivo é proporcionar a esses utentes “momentos de fruição artística” que os ajudem a relaxar na hora de adormecer.
“É um projecto para embalar os idosos, através da música e dos sons, mas também da poesia e do conto de histórias”, explica Raquel Gomes, coordenadora de projectos da SAMP.
O “Serões com avós”, que arrancará em Setembro, decorrerá em 10 instituições, lares ou unidades de cuidados continuados, de Leiria, Marinha Grande, Pombal, Porto de Mós e Ourém.
Cada instituição vai ter três sessões artísticas, quando os idosos já se encontrarem nas suas camas, mesmo antes de adormecer.
Maciço junta dança, olaria e cinema
Promovido pela Associação de Dança de Leiria, o projecto Maciço – estórias em corpo vivo esculpidas por gentes irá juntar a dança inclusiva, a cerâmica e o cinema, contando, para isso, com as parcerias da Casa da Olaria e as suas oficinas ao vivo dinamizadas por Ana Lousada e Carlos Neto em Alcaria, Porto de Mós, e do cineasta Rafael Almeida.
Segundo Marina Oliveira, coordenadora do projecto, pretende-se a construção de um espectáculo que envolverá as três disciplinas, com performance de dança, cerâmica ao vivo e projecção de vídeo-dança.
“Para criar este trabalho, os artistas das três áreas entram em residência artística na Serra de Aire, onde contactam com grupos organizados e com o meio natural, para aí beber inspiração para criar”, revela.
Em troca, os artistas “partilham com a comunidade o processo de trabalho”, através “um ensaio aberto” e de um workshop. “O nosso projecto é relevante, porque partilhamos o processo criativo com o público, proporcionando ferramentas para interpretar o resultado final”, afirma Marina Oliveira, que destaca ainda o facto de a proposta promover “a capacitação de bailarinos com deficiência.”
Estudar o impacto de acções culturais
A Ccer Mais propõe-se, através do projecto Identidade cultural, a produzir quatro “mini-documentários” que retratem o impacto da acção cultural noutras tantas comunidades do território da Rede Cultura 2027.
Para tal, serão recolhidos testemunhos sobre quatro eventos/iniciativas: Aldeia Pintada, na Torre (Batalha); Festival Bons Sons, em Cem Soldos (Tomar), Jazz Valado, em Valado dos Frades (Nazaré) e Festa do Saka, no Bairro Sá Carneiro (Leiria).
“Queremos perceber o impacto, positivo e negativo, que os projectos têm nas comunidades, auscultando as pessoas que aí residem e quem participa nos projectos”, explica Miguel Ferraz, produtor.
Cada um dos “mini-documentários’ será apresentado, em primeira mão, às comunidades envolvidas, e o resultado final surgirá no final de Outubro, no Curta Arruda, o festival de curtas de Arruda dos Vinhos, um dos dois parceiros do projecto. O outro é Instituto Politécnico de Tomar, através da licenciatura em Cinema Documental.
Estações Efémeras em três concelhos
O Leirena Teatro viu aprovado o projecto Estações Efémeras, que irá decorrer em Ansião, Figueiró dos Vinhos e Leiria. Em cada concelho foi seleccionado um espaço natural – nascente do rio Nabão, Fragas de São Simão e cascata dos Caniços, respectivamente – que servirá de palco a residências artísticas.
Durante duas semanas, actores da companhia leiriense, juntamente com um profissional da área de cada concelho, irão criar no local parte de um espectáculo original, que será depois complementado com as “cenas desenvolvidas e interpretadas por pessoas da comunidade”.
Trata-se de “unir duas componentes: a criativa e a mediação de públicos como forma de participação artística”, explica Frédéric Cruz, director do Leirena. No final, resultarão três espectáculos diferentes, tendo “em conta as comunidades locais e o espaço natural” em que foram desenvolvidos.
Origens junta mais de 100 artistas
Combater o isolamento cultural, “fazendo aparecer no mapa artístico e expondo os locais anfitriões”, e “relembrar os centros mais desenvolvidos das suas origens” é o propósito do Origens, promovido pela Filarmónica das Chãs. O projecto irá juntar mais de 100 artistas, entre músicos, compositores, maestros e coralistas ligados a esta banda e ao Coral Calçada Romana (Porto de Mós), que interpretarão música “comumente” reproduzida por grupos de folclore, contando com a colaboração do Rancho Folclórico de Geraldes (Peniche).
Desse trabalho resultará um espectáculo a ser apresentado em dois tipos de palcos: espaço público de aldeias e num grande monumento ou espaço central da capital de distrito. João Gaspar, director artístico do projecto revela que, “em complemento”, haverá também acções de formação/tertúlias em diversas aldeias dos 26 concelhos da Rede Cultura.
Fixar e ficcionar saberes
Batendo em Ondas contra a noite escura é o nome do projecto de O Nariz Teatro, que pretende “fixar e ficcionar saberes e fazeres locais”. Irá decorrer em Alvados e Mira de Aire, concelho de Porto de Mós, e terá três fases.
A primeira, explica Vitória Condesso, coordenadora do projecto, consiste na “recolha de costumes e tradições ligadas à oralidade, gastronomia e movimento”, onde se inclui o processo de modelação e cozedura de barro em forno de papel.
Actores e músicos de O Nariz pegarão depois nessa recolha e vão transportá-la para a ficção, com o resultado a ser apresentado em Dia Aberto, a realizar numa eira.
Serão 12 horas, o tempo de cozedura das peças, onde haverá momentos musicais, gastronomia e equipas a contar histórias. A terceira fase do projecto consiste numa exposição dos trabalhos feitos em barro e a exibição de um documentário que retrata todo o processo.