Diz, com uma ponta de orgulho, que é “o barbeiro mais antigo de Leiria e um dos mais velhos do País”. Aos 85 anos, Manuel Brás mantém-se no activo, de portas abertas ao lado do antigo Bingo.
Aí, atende clientes de “há décadas”, mas também os filhos e netos destes, que vão ajudando a renovar a clientela. Manuel Brás entrou na profissão assim que terminou a escola primária, aos 11 anos. Conta que foi o pai que o encaminhou para a área, ao pedir ao proprietário da Barbearia Paixão, que durante décadas funcionou na Rua Mouzinho de Albuquerque, para arranjar emprego “ao rapaz”.
“O meu irmão era mecânico e eu queria ir trabalhar com ele, mas o meu pai empurrou-me para aqui. E ainda bem que o fez”, reconhece o barbeiro, que, em pouco tempo, se afeiçoou à arte de cortar barba e cabelo.
“Ainda hoje, gosto muito da minha profissão”, afiança. Depois de 14 anos na Barbearia Paixão, acabou por abrir o seu próprio estabelecimento, a poucas dezenas de metros do local onde trabalhava, por influência dos clientes, que lhe arranjaram o espaço.
[LER_MAIS]Nesse tempo, “havia 14 barbearias” na cidade. Quase todas já fecharam portas, mas, nos últimos anos, foram surgindo outras, rejuvenescendo o sector. “Há espaço para todos, desde que exista respeito”, defende Manuel Brás, que assume que se mantém no activo não só por gostar do que faz, mas também por questões financeiras, como forma de complementar a parca reforma.
“Descontei pouco. Agora, sofro as consequências. Recebo apenas 300 euros. Não dá para comer. Tenho de continuar aqui enquanto Deus me deixar”, desabafa, ao mesmo tempo que vai tratando da barba de Mário Santos.
‘Marito’’ como Manuel Brás lhe chama, é um dos clientes que frequenta o espaço há décadas. Começou em criança e “nunca” mudou. “A primeira vez que me cortou o cabelo ainda foi em casa dele, nos Marrazes. Depois abriu este espaço e continuei a vir. Gosto do seu trabalho e da sua maneira de ser”, confessa Mário Santos, de 67 anos, que no dia em que conversou com o JORNAL DE LEIRIA deu trabalho a dobrar a Manuel Brás: barba e cabelo.
Uma “raridade” nos dias de hoje, reconhece o barbeiro, contando que a maioria dos clientes corta apenas o cabelo. Às vezes, aparece- lhe um ou outro cliente apenas para tratar da barba. “Vêm com o cabelinho todo arranjado e cortado de outro lado e o resto pedem-me a mim. Alguns dos novos barbeiros não sabem cortar a barba”, diz Manuel Brás, que, entre tesouradas, vai apontando para um retrato pendurado ao lado do espelho, por cima do diploma que recebeu no Festival do Penteado da Figueira da Foz, em 1980.
O retrato foi feito pelo seu filho um ano antes desse concurso. “Ainda tinha muito cabelo”, graceja, contando que, além do jeito para o desenho, o filho também tem o curso de cabeleiro, mas não executa, trabalhando antes como contabilista. “Foi a opção dele e eu só tenho de respeitar”, alega o barbeiro, que tenciona manter-se a trabalhar “enquanto tiver forças”.