Meu Caro Zé,
A semana que passou foi marcada pela morte de Stephen Hawking, um físico que marcou a história da ciência e sobre o qual, nos últimos dias, muito tem sido dito.
É, por isso, estultícia da minha parte retomar o assunto, mas corro esse risco, procurando refletir não só sobre o físico, mas também, e principalmente, sobre a pessoa, reconhecendo, no entanto, ser quase impossível separar a pessoa do físico e vice-versa.
Começarei invocando, com a devida vénia, um cartoon de Luís Afonso no Público, em 15-03-2018 que relembra os alertas de Stephen Hawking sobre as ameaças que pairam sobre a humanidade: um vírus criado pela engenharia genética, uma guerra nuclear, uma inteligência artificial fora do controlo humano e o aquecimento global.
Sem prejuízo de admitir outras ameaças, importa salientar que aquelas que são enunciadas são todas causadas pela humanidade no seu conjunto, designadamente pelo seu comportamento. É por isso, de notável argúcia a resposta dada, no cartoon pelo Bartoon: “Eu diria que estamos bem lançados para qualquer delas.”
O adjetivo “lançados” é, porventura e infelizmente, certeiro, transmitindo uma direção à concretização dessas ameaças. Curiosamente, posto perante este cartoon, um dos meus netos, de 13 anos, comentou: “Acho que o cartoon é muito pessimista!”.
[LER_MAIS] E esta frase, de um adolescente que vive em profundidade o ambiente atual, é motivo de reflexão e, potencialmente, de otimismo. E porquê? Porque se as ameaças provêm da própria humanidade ela pode, se quiser, mas quiser mesmo, inverter a situação.
Para isso, precisa de, em conjunto, refletir sobre as causas dessas ameaças e do modo de as contrariar.
Naturalmente, é uma questão demasiado complexa para ser abordada aqui. No entanto, como primeira ideia, fica a necessidade de submeter a técnica à ética e o orgulho das descobertas ser substituído pela ideia de que “os fins não justificam os meios”.
Em particular é preciso e urgente fundir o estudo das humanidades (o termos diz tudo!) com a tecnologia e a economia. Mas as preocupações de Stephen Hawking pelo futuro da humanidade são um sinal fortíssimo do valor que dá ao homem e à vida.
E é, exatamente, essa lição de vida que eu quero ressaltar, nos tempos em que tanto se agride a vida e se despreza o espírito (que é o centro da vida) que anima o homem até ao fim. Por essa lição, obrigado Stephen Hawking.
Quanto às ameaças, elas vêm na linha de outras, uma das quais também na última semana, de Tim Berners-Lee, criador da internet, chamou a atenção para o perigo do seu uso e da concentração de poder a que está a dar origem. Mas não será, exatamente, esse desejo de poder exacerbado que mais ameaça a humanidade?
Até sempre,
*Professor universitário
*Texto escrito de acordo com a nova ortografia