Nunca fui fã do Festival da Canção. Nem quando uma banda de metal ganhou nem quando Portugal ganhou. Nunca fui. A minha família parava para ver. Eu seguia com a minha vida.
Curioso, estava no aeroporto aquando da chegada do Salvador Sobral. Não, não estava à espera dele. Vinha de um concerto na Alemanha, penso eu, mas não vou dizer pormenores do concerto para não acharem que me estou a promover. Mas tudo observei: a histeria, as bandeiras, o “patriotismo”, o “histórico momento”. Nunca fiz muitos juízos de valor publicamente sobre o tema.
Cada músico escolhe o seu caminho, vivendo a sua realidade. Mas também nunca acreditei que, num passe de mágica, os portugueses descobrissem a música que tão esquecida anda, de um modo geral, na sua essência formadora, lúdica ou pedagógica. Ao que saiba, não houve um aumento do orçamento para a música nas escolas. Os instrumentos não desceram de preço, mantendo a categoria de produto de luxo.
[LER_MAIS] Ao que consta, organizar o Euro Festival (prestigiante para alguns, para outros nem por isso) custará a Lisboa e ao Estado milhões de euros. Dinheiro público. O IVA dos discos não desceu. As quantidades de vendas não subiram significativamente, nem para os vencedores da Eurovisão.
Continuamos todos a lutar, cada um pelo seu espaço, com causas e vidas com cada vez menos em comum. E aqui estamos, mais ou menos na mesma: vaidosos e inconscientes. Quanto à qualidade do Festival 2018, e sem o exagero da vox pop, estes não são os melhores compositores da música portuguesa. São alguns dos seus compositores.
Como músico não me pareceu terem dado o seu melhor. Por falta de tempo, de musa, por uma pobre pesquisa. Não, esses compositores não teriam sido convidados para o festival se a sua carreira fosse feita de canções assim.
Não me interessam as acusações de plágio, o festival são três dias e a originalidade já lá vai. Nem está tudo feito, nem por fazer, nem anda tudo parvo, ou armado em musicólogo, nem são três acordes, nem escalas japonesas, nem bananas, nem chapéus há muitos.
A música é uma coisa séria. Pode ser uma pequena vela ou um fogo de artifício. Desde que a chama que acende pavio ou rastilho tenha verdade lá dentro, feita das nossas melhores obras. Do melhor que somos.
*Músico