A intenção da Câmara Municipal da Marinha Grande em investir mais de 200 mil euros num monumento de 12 metros de altura que funcione como um memorial alusivo ao incêndio que devastou o Pinhal de Leiria é, no mínimo, questionável", escreveu João Nazário no editorial do Jornal de Leiria, na semana passada.
A necessidade de prevenção de fogos florestais é consensual. Nessa gigantesca tarefa, a educação tem um papel activo. Mas educar demora tempo a produzir efeitos. Costuma dizer-se que é preciso toda uma geração para ver os efeitos de um projecto educativo dar resultados. Como plantar castanheiros. E tempo, convenhamos, é coisa que desapareceu da realidade actual.
A voragem com que tudo se passa consome a noção de prioridades, atropela valores, confunde pessoas e transformanos a todos em passageiros de uma montanha russa conduzida por ninguém…
Duzentos e dezasseis mil euros investidos em prevenção de fogos florestais, na componente educação, quanta educação seria? Quantas pessoas na Marinha Grande podiam ser tocadas por acções de educação para a prevenção florestal – nas escolas, nas ruas, nos locais de trabalho?
Quantos efeitos multiplicadores de verdadeira cidadania se poderiam conseguir tocando a parte mais poderosa para educar alguém – as suas emoções? Quantos cidadãos se poderiam transformar em "defensores" da Mata Nacional se 216 000 euros fossem gastos na sua educação? Nunca saberemos.
Gerir é optar. E na Marinha Grande optou-se por uma estátua, que prometem-nos, será "avassaladora". Como se alguém precisasse de um memorial nos próximos 30 anos para se lembrar do inferno que devorou o Pinhal de Leiria no último Verão…
[LER_MAIS] Temos então que, inexoravelmente, em vez de prevenir vamos assistir a um memorial que nos lembrará aquilo que não é possível esquecer. Uma homenagem avassaladora à redundância, pois então.
Fico sempre estupefacta com as coisas avassaladoras. Sobretudo se forem memoriais, sobretudo se tiverem 12 metros de altura. E sobretudo se custarem 216 000 euros dos nossos impostos para nos lembrar que os incêndios de 2017 foram o resultado de décadas de ausência de prevenção de fogos florestais, entre outras causas.
A educação para a prevenção, essa? Alguém que a faça.
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