Imagine-se uma empresa, chamemos-lhe empresa A, que trabalha exatamente da mesma forma desde que abriu, há muitas décadas. Continua a laborar com pujança, dando emprego a muitas pessoas, e continua a gerar lucros interessantes.
Haverá motivo para alterar alguma coisa no seu funcionamento? Imaginemos agora a empresa B, que opera também há muitos anos, mas num setor diferente. As evoluções tecnológicas e as preferências dos seus clientes mudaram e provocaram uma diminuição do número de clientes e grandes quebras na faturação.
Por causa disso, os gestores decidiram mudar completamente a forma de trabalhar, reduziram custos e oferecem um produto mais popular. Estará no bom caminho? Perante estes cenários hipotéticos, o leitor provavelmente responderia “sim” à primeira pergunta e “não” à segunda questão.
Para quê mudar quando a empresa dá lucros? E se reduziu custos e oferece um produto mais popular, certamente agora a empresa B vai ter sucesso! No entanto, se a empresa [LER_MAIS] A for a Celtejo, já haverá outras respostas.
De facto, a Celtejo (empresa produtora de pasta de papel em Vila Velha de Ródão) opera há mais de 50 anos e aparentemente de forma semelhante. Continua sem grandes preocupações ambientais, poluindo o maior rio português, responsável por abastecer de água vários milhões de pessoas.
Também se eu disser que a empresa B se chama Diário de Notícias ou Expresso, a resposta mudará. Afinal, se os jornais cortarem custos e oferecerem notícias mais populares podem ter lucros… mas será boa ideia?
Estes cenários pouco hipotéticos vêm a propósito das boas notícias sobre o crescimento económico em Portugal. Anima-nos, certamente, que cresça a economia do país e se crie riqueza. Afinal, se houver uma economia mais vibrante haverá mais empregos com melhores salários para mais pessoas.
Mas será importante que o foco no crescimento económico não nos deixe míopes, incapazes de ver ao longe. A preocupação apenas com o curto prazo, com o lucro imediato, leva a consequências nefastas para a sociedade: poluição nos rios e poluição mediática.
Afinal convém não esquecer o princípio que um mestre me ensinou: “a economia precisa de servir as pessoas, não são as pessoas que servem a economia”.
*Professor e investigador
*Texto escrito de acordo com a nova ortografia