Abre-se o miolo protegido pela capa de cor laranja e descobrem-se imagens onde aparecem o actor e encenador Pedro Oliveira, o músico Pedro Marques e a bailarina Inesa Markava, entre outros nomes do meio artístico de Leiria.
Durante quatro meses e meio, o suporte e a rede de afectos de Mircea Sorin Albuțiu.
Rasto, o livro que resulta da residência do fotógrafo da Roménia no espaço Serra, na Reixida, até ao final de Maio do ano passado, está à venda na Arquivo e é o mote para a conversa com o autor, a ocorrer online e em directo esta quinta-feira, 28 de Outubro, com moderação de Ana David Mendes, coordenadora e curadora do BAG – Banco das Artes Galeria.
Através da lente de Mircea Albuțiu, que só fotografa em filme com câmaras analógicas, Leiria é, acima de tudo, a soma de quem a habita. Ele diz-se inspirado e motivado no contacto com os outros e na Reixida encontrou uma comunidade unida em torno da criatividade e da cultura, com membros “calorosos, gentis e amigáveis”, que o aceitaram sem reservas e o apoiaram no primeiro momento da pandemia, em 2020, que atrasou o regresso à Roménia.
“No confinamento, o Pedro [dos First Breath After Coma] e o Lenny [o pintor Leonardo Rito] vinham todos os dias à casa e ao ateliê para trabalhar, portanto, eu estava isolado, mas não sozinho”, explica. “A ligação entre mim e as pessoas que conheci é muito forte. A arte ligou-nos”.

Da estadia no Serra e de viagens em Portugal, surgiram a exposição Serra, Family of Dog, na livraria Arquivo, e a exposição Under the Surface, no BAG, também a série Who Are You?, no site do JORNAL DE LEIRIA, sobre as ruas da cidade, e ainda os trabalhos Iso-400-Lation e Cool Breeze In a Silent Landscape, este último focado nas paisagens do litoral oeste e do sul.
Rasto, com 76 páginas em formato 19 x 28 centímetros, numa edição de 300 exemplares, contém 55 imagens, provenientes de 55 rolos. E, apesar de dividido em quatro capítulos, mais do que expor uma narrativa ou cronologia, exibe um conceito. Começa e acaba com registos a cores da costa portuguesa, mas, pelo meio, os artistas com que Mircea Albuțiu se cruza são retirados do respectivo contexto e colocados em ambiente urbano, em Leiria, a preto e branco. O objectivo é que cada um possa imaginar uma história na visualização do livro, sem a proposta de um caminho rígido e pré-definido. No fim, há um texto do autor, sobre uma noite em Lisboa, sem fotografia a acompanhá-lo.
No Instagram, tem o perfil @rasto_ portugal.
“Acho que o que me motiva a fotografar é a alegria”, resume, numa resposta a 3.500 quilómetros de distância.
O olhar de Mircea Albuțiu abrange os bastidores do meio artístico, lugares vazios, paisagens ou pessoas e actualmente incide sobre viagens em comboio na Roménia.
O fotógrafo, de 53 anos, já tinha estado em Leiria em 2017 e 2019, com exposições, respectivamente, no Teatro José Lúcio da Silva e no m|i|mo – museu da imagem em movimento, que o levaram a conhecer o espaço Serra e a planear a residência realizada em 2020.
Deverá regressar em Janeiro do próximo ano e, eventualmente, visitar o cenário que mais o atrai na região, a praia da Polvoeira. “Gostava de ter uma casa lá”.