Diz que “o segredo da felicidade é fazer os outros felizes”. E, aos 96 anos, o padre Serafim Marques sente a paz de espírito de quem, ao longo de uma vida dedicada aos outros, ajudou muitos nesse caminho pela busca da felicidade, como professor, como sacerdote e, sobretudo, como ser humano.
Ainda hoje, mesmo com a falta de voz, que foi perdendo durante os anos em que esteve em missão no Brasil, continua a concelebrar para a comunidade dos Missionários da Consolata, em Fátima, onde reside, sendo o membro mais velho da congregação em Portugal.
Antes da pandemia, ainda presidia a celebrações e, três vezes por semana, confessava no Santuário.
Serafim Marques nasceu em Santa Catarina da Serra, no concelho de Leiria, numa família “profundamente religiosa”. Dos 12 filhos do casal, três rapazes seguiram o sacerdócio e duas raparigas foram para freiras.
“O meu irmão Jaime [de 90 anos] está comigo na Consolata e a minha irmã continua no Brasil. Os outros dois já faleceram”, conta.
Tinha apenas 11 anos quando os pais receberam em casa elementos dos Irmãos Maristas, congregação reconhecida pelo trabalho na área da educação e do apoio social.
“Perguntaram se havia alguém disposto a entrar [na comunidade] e eu disse que sim”, recorda [LER_MAIS]Serafim Marques, que passou os dois anos seguintes no Seminário Marista de Tui, em Espanha.
Dali, partiu para o Brasil, para continuar a sua formação. Ainda hoje recorda o embarque feito em França e a paragem feita em Lisboa.
“Estávamos proibidos de falar português. O Estado não deixava sair crianças do País. Então, para não nos identificarem como portugueses só podíamos falar francês”, conta.
Chegou ao Brasil em 1938 e instalou-se nunca casa de formação da congregação em Ceará, Pernambuco, onde prosseguiu os estudos, tendo-se proferido os seus votos religiosos em 1943.
A formação universitária foi feita em Fortaleza ao mesmo tempo que dava aulas num internato de jovens. Por esta altura, começou a despertar em si o desejo de ser padre.
A certeza de que queria seguir a vocação sacerdotal chegou num momento em que foi procurado por “um jovem que estava com problemas espirituais”.
“Encaminhei-o para um padre que foi um pouco áspero e que ainda o deixou mais revoltado do que estava. Disse para mim que, se fosse padre, teria feito de outra forma”, relata Serafim Marques, que foi ordenado padre aos 44 anos, em Fátima.
Regressou depois ao Brasil onde trabalhou em várias regiões. Seria durante a sua presença em Brasília que a voz lhe começou a “fugir”, acabando por voltar a Portugal, definitivamente, nos anos 80 do século XX, fixando residência no Instituto Missionários da Consolata em Fátima.
É aí que, todos os dias, ajuda a celebrar a missa. “Só com a Covid deixou de presidir a celebrações. Antes, fazia-o com ardor, zelo e entusiasmo”, assegura o padre Simão Pedro.
Além da participação nas actividades religiosas da congregação, Serafim Marques faz diariamente duas caminhadas, uma de manhã e outra de tarde, no espaço exterior da instituição e amparado em duas bengalas.
“Agora tenho quatro pernas”, brinca, confessando-se “um homem feliz”. E diz não ter dúvidas que “se nascesse outra vez, seria novamente padre, mas com melhor preparação, para ser mais humano e mais compreensivo com as pessoas”.